Governo brasileiro quer latinos 'unidos' por sistema brasileiro de TV digital

Ministro Hélio Costa diz que no passado sistemas diferentes causaram dificuldades para o intercâmbio cultural e comércio.

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Por Fabrícia Peixoto
Atualização:

O governo brasileiro quer ver os países da América do Sul "unidos" por um mesmo sistema de TV digital, "se não todos, pelo menos os do Cone Sul", disse à BBC Brasil o ministro das Comunicações, Hélio Costa. "Precisamos de uma linguagem única. No passado, tivemos muitos problemas com sistemas diferentes de televisão, o que trouxe uma série de dificuldades para o intercâmbio cultural e para o comércio", disse o ministro. Representantes do ministério e do Itamaraty vêm fazendo uma campanha na região para que os vizinhos escolham o sistema brasileiro, desenvolvido com tecnologia do Japão. Enquanto Brasil e Peru optaram pelo sistema baseado na tecnologia nipo-brasileira, Colômbia, Uruguai, Panamá e Guiana Francesa decidiram pelo padrão europeu. Já El Salvador, México e Canadá decidiram adotar a tecnologia americana. Sites especializados chegaram a informar que o governo da Venezuela já teria decidido pelo padrão chinês. Mas em conversa recente com o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o presidente Hugo Chávez garantiu que ainda não há uma definição. Segundo Hélio Costa, já está confirmada mais uma visita à Venezuela para discutir o assunto. Além disso, ele disse que as conversas estão avançadas com Argentina, Equador, Chile e Cuba. Adeptos Com seu sistema Ginga, desenvolvido no país em parceria com os japoneses, o Brasil se coloca como uma opção à tecnologia dos países desenvolvidos. Na busca por adeptos na região, o governo brasileiro promete ajudar os países vizinhos, de forma que eles possam produzir seus próprios equipamentos. O especialista em TV digital e professor da Faculdade Mackenzie, Gunnar Bedicks, diz que o governo brasileiro tem feito diversas demonstrações na região para mostrar as "vantagens" de seu sistema - mas que a decisão final acaba levando em conta outras questões. "Não podemos negar que o aspecto político também conta", diz. Segundo ele, é natural que um país chegue à conclusão de que um sistema é melhor do ponto de vista técnico, e acabar optando por outro padrão em função de outros ganhos ou "afinidades" com o país que produz aquela tecnologia. Ele cita o exemplo do México e do Canadá, que seguiram o padrão americano. No Uruguai, os fabricantes europeus prometeram uma série de investimentos no setor. Na Venezuela e em Cuba, países mais ligados ao socialismo, o padrão chinês disputa a preferência com o brasileiro. No Brasil, a escolha pelo padrão japonês considerou critérios como transferência de tecnologia e investimentos para a construção de uma fábrica de semicondutores no país. Além disso, o padrão também era o preferido das empresas do setor. Diferencial Ao defender o padrão nipo-brasileiro, o ministro Hélio Costa ressalta o que chama de "grande diferencial". "Estamos propondo uma pareceria com os países latinos, e não uma exploração de mercado", diz o ministro brasileiro. Ainda segundo Costa, "enquanto todos estão interessados em vender, nós oferecemos um sistema onde há também uma participação industrial". Segundo Costa, o Uruguai anunciou sua opção pelo padrão europeu "baseada em questões políticas", e que agora estaria encontrando "dificuldades técnicas" para colocar o sistema em operação. "Estamos esperando que tenham encontrado dificuldades e acho até que encontraram. E nós estamos prontos para ir lá socorrê-los", diz o ministro brasileiro. "Se eles permitirem, vamos levar transferência de tecnologia, financiamentos, tudo que foi prometido a eles pelos europeus e que não foi entregue", diz. Dominante O representante da Associação de Broadcasters do Uruguai (Andebo), Nestor Criscio, concorda que o ideal seria um mesmo padrão para toda a região, pois traria ganho de escala e preços menores. Mas, segundo ele, "agora é tarde". "O Brasil usou sua posição dominante na região para decidir por um padrão sem consultar os outros países, nem mesmo os do Mercosul", diz Criscio. Para ele, "tanto o Brasil quanto o Uruguai erraram". Sua avaliação é de que o Uruguai "se equivocou" ao decidir pelo padrão europeu, que além de trazer desvantagens comerciais prevê a cobrança pelo serviço. "Hoje temos no Uruguai uma TV aberta e gratuita. A TV digital é indiscutivelmente melhor, mas dessa forma estaremos privatizando o sistema televisivo", diz Criscio. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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