A indústria farmacêutica Roche, que produz o medicamento Redoxon, líder do mercado de vitamina C do País, com 11 milhões de unidades consumidas por ano, é a primeira vítima da portaria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) contra irregularidades em propagandas de remédios, que entrou em vigor no início do mês. De acordo com a Anvisa, os anúncios da empresa apresentando o efeito "milagroso" do ácido ascórbico na prevenção e na cura da gripe passam informações falsas para o consumidor, que não encontram respaldo científico. A gerente de Controle e Fiscalização de Medicamentos e Produtos da Anvisa, Maria José Delgado Fagundes, revelou ao Estado que a Roche foi notificada por causa da última propaganda do Redoxon, que está sendo veiculada na televisão e publicada em revistas e jornais de todo o País. "A Roche já foi notificada e acredito que deva ser autuada, porque o texto da propaganda alega propriedades que não estão presentes no produto, como a cura da gripe", afirma Maria José. A autuação a que a gerente da Anvisa se refere representa uma multa, que pode variar de R$ 2 mil a R$ 200 mil. O gerente médico da Roche, Glauco Carvalho, afirma que a empresa tem como norma "não promover nada que não seja cientificamente comprovado". "Defendemos a proteção que o medicamento proporciona ao organismo como um todo, porque a vitamina C estimula o sistema imunológico, ao fazer com que as células de defesa fiquem mais ativas", diz Carvalho. A Roche informou que uma auditoria externa aponta o consumo anual de 22 milhões de unidades de vitamina C no País - o Redoxon representaria 50% desse mercado. O farmacologista Antônio Carlos Zanini, chefe do Setor de Informação de Medicamentos do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo, afirma que indústria farmacêutica faz "propaganda enganosa". "A vitamina C não age na gripe. É muito mais barato e efetivo que as pessoas tomem a vacina contra a doença", diz Zanini. Segundo ele, a "onda da vitamina C" foi promovida pela indústria farmacêutica com base nas teorias do químico norte-americano Linus Pauling, Prêmio Nobel na década de 50, que propalava os efeitos "milagrosos" do ácido ascórbico. "No entanto, até hoje, nenhum estudo comprovou essa eficácia", diz o farmacologista. O gerente da Roche se defende: "Sou médico, tenho uma responsabilidade ética, e a Anvisa aceitou o registro da bula que fala em proteção contra gripes e refriados." No início do mês, uma novidade surpreendeu até mesmo os especialistas que criticam o uso indiscriminado da vitamina. A revista norte-americana Science publicou um estudo da Universidade da Pensilvânia indicando que o consumo de vitamina C pode provocar lesões genéticas nas células humanas.