Governo anunciou reforma da Previdência até em canal de deputado do PT

Informação está em relatório da CPI das Fake News, que identificou mais de 2 milhões de anúncios do governo federal em páginas de conteúdo inadequado

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Por Thiago Faria e Patrik Camporez
Atualização:

BRASÍLIA - O relatório da CPI das Fake News, que identificou mais de 2 milhões de anúncios do governo federal em páginas de conteúdo inadequado, também mostrou que até mesmo um canal do YouTube do deputado Paulo Pimenta (PT-RS) recebeu verba pública. Segundo o documento, a publicidade veiculada foi da campanha em defesa da reforma da Previdência. O parlamentar militou contra a mudança nas regras de aposentadoria, aprovada no ano passado no Congresso.

O documento, produzido por consultores legislativos, tem como base informações da própria Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) referente ao período de junho a julho do ano passado. Os dados foram obtidos via Lei de Acesso à Informação pela CPI e revelados pelo jornal O Globo. O Estadão também teve acesso ao relatório.

A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) em depoimento na CPIdas Fake News, no ano passado Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

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"Deve ser uma mistura de falta da controle com provocação. Pois um canal que publicamente trabalhou contra a reforma da Previdência ter um post de um vídeo de defesa da posição do governo é no mínimo estranho", disse Pimenta ao Estadão. O parlamentar era líder da bancada do PT na Câmara na época em que os anúncios oficiais foram exibidos em seu canal.

Segundo o documento da CPI, um vídeo de 10 segundos com a campanha da Nova Previdência foi exibido 26.778 vezes em seu canal. O parlamentar não soube informar quanto esses anúncios reverteram em dinheiro.

Entre os vídeos publicados na conta do parlamentar estão alguns que levam títulos como "A Reforma da Previdência é uma mentira!", "A Reforma da Previdência ataca os mais pobres" e "Nova Previdência ou Fim da Previdência?". A publicação que fez mais sucesso, com 46 mil visualizações, é um em que o deputado afirma haver compra de votos no Congresso para a aprovação da proposta do governo.

A consultoria legislativa que analisou os dados de publicidade oficial também identificou anúncios em canais de YouTube de outros parlamentares, mas mais alinhados ao governo. Na lista constam os deputados Marco Feliciano (Republianos-SP), Bia Kicis (PSL-DF) e até do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro. Todos eles, no entanto, com números bem mais baixos de impressões.

Procurada, a Secom informou que não patrocina qualquer site ou blog e os anúncios citados no relatório da CPI são veiculados por critérios técnicos adotados pelo Google Adsense. Na ferramenta da empresa de internet, no entanto, é possível adicionar filtros que bloqueiam a veiculação em sites determinados.

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Também em nota, o Google afirma que as suas plataformas "oferecem controles robustos que permitem o bloqueio de categorias de assuntos e sites específicos, além de gerarem relatórios em tempo real sobre onde os anúncios foram exibidos" (leia a íntegra da empresa abaixo).

Leia abaixo a íntegra da nota da Secom, que faz referência à reportagem do jornal O Globo por este ter sido o primeiro a noticiar o relatório:

"A Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República repudia matéria tendenciosa de O Globo intitulada CPMI das Fake News identifica 2 milhões de anúncios da Secom em canais de 'conteúdo inadequado' em só 38 dias. O dever do bom jornalismo é levar esclarecimento às pessoas, mostrar e explicar fatos e dados, e não somente repetir narrativas que promovem a desinformação. 

Na semana passada, a Secom já havia informado ao O Globo que não patrocina qualquer site ou blog. Foi explicado também que as verbas publicitárias são direcionadas pelo Google Adsense, que utiliza inteligência artificial e critérios próprios para distribuição de anúncios. Ou seja, cabe à plataforma as explicações pertinentes sobre a ocorrência. Os veículos que constam na lista citada pela matéria foram selecionados pelo desempenho aferido pelo algoritmo do Google, e não pela Secom. 

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Cabe citar que o próprio jornal Folha de S. Paulo já teve seus anúncios veiculados em sites considerados impróprios porque a distribuição do investimento publicitário foi realizada pelo Adsense do Google de forma automática.Entretanto, sua ombudsman considerou que o jornal foi sabotado por algoritmos. Ou seja, dois pesos e duas medidas. A Secom pública anúncios em sites de fake news. A Folha é sabotada.

Mais uma vez, a Secom informa que o processo de escolha de veículos conduzido pelas agências de publicidade prestadoras de serviço, contam diretamente com a assessoria técnica do Google para apoiar os critérios da ferramenta.

Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República"

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A nota do Google sobre o relatório da CPI das Fake News

“O Google tem ajudado parceiros do setor privado e do setor  público a usar a publicidade digital para levar suas mensagens a milhões de brasileiros de modo eficiente, com escala e alcance.

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Temos políticas contra conteúdo enganoso em nossas plataformas e trabalhamos para destacar conteúdo de fontes confiáveis. Agimos rapidamente quando identificamos ou recebemos denúncia de que um site ou vídeo viola nossas políticas. 

Entendemos que os anunciantes podem não desejar seus anúncios atrelados a determinados conteúdos, mesmo quando eles não violam nossas políticas, e nossas plataformas oferecem controles robustos que permitem o bloqueio de categorias de assuntos e sites específicos, além de gerarem relatórios em tempo real sobre onde os anúncios foram exibidos.

Cientes do dinamismo do ecossistema digital, também trabalhamos no aperfeiçoamento de nossas plataformas para oferecer os melhores resultados possíveis para nossos parceiros. Preservar a confiança no ambiente de publicidade digital é uma prioridade. 

Agimos diariamente para minimizar conteúdos que violam nossas políticas e impedir a ação de pessoas mal-intencionadas em nossa rede. Somente em 2019, conforme nosso mais recente relatório de transparência, encerramos mais de 1,2 milhão de contas de publishers e retiramos anúncios de mais de 21 milhões de páginas, que faziam parte de nossa rede, por violação de políticas."

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