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Governistas reagem e tentam manter votação do caso Renan

Líder do PSDB pediu tempo para relatar caso na CCJ; para não atrasar julgamento, idéia é atropelar comissão

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Por Cida Fontes
Atualização:

Uma articulação entre PSDB e DEM deixou atônitos os principais líderes políticos do governo. Preocupados com a decisão do líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), de relatar só na próxima semana o pedido de cassação do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o que significa adiar o julgamento do senador alagoano no plenário, os governistas ameaçam atropelar essa estratégia da oposição.   A idéia dos aliados do Planalto, incluindo o senador José Sarney (PMDB-AP), é reunir a maioria dos partidos aliados e votar o parecer sobre a constitucionalidade do processo contra Renan diretamente no plenário, sem passar pela CCJ, informaram fontes. Para isso basta aprovar um requerimento em plenário. Esse será o principal assunto da reunião de líderes partidários convocada para esta terça-feira, às 11 horas, pelo presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC).   Veja também:   Cronologia do caso  Entenda os processos contra Renan   Virgílio pede mais tempo e pode atrasar votação do caso Renan   Tião Viana quer um acordo que o autorize a pedir urgência para submeter logo à CCJ a decisão do Conselho de Ética, que pediu a cassação de Renan por 11 votos a 3, levando o assunto ao plenário na quinta-feira, como estava previsto no cronograma inicial. "Isso (a decisão de Virgílio em não apresentar parecer na CCJ amanhã) é ruim para o governo e prejudica a negociação da CPMF", admitiu Tião.   O governo não quer os assuntos Renan e CPMF misturados por avaliar que isso põe em risco a prorrogação da contribuição. E foi por isso que, depois de trabalhar pelo afastamento de Renan da presidência do Senado, o governo se viu obrigado a operar em sentido contrário, para evitar que ele renuncie nos próximos dias.   Na avaliação de senadores do PSDB, a operação política montada pelo governo de votar primeiro o processo de Renan e depois a emenda constitucional que prorroga a CPMF até 2011 tinha um objetivo. "Após se livrar de Renan, o governo queria nos enfrentar", comentou Arthur Virgílio com colegas de partido. Renan Calheiros, por sua vez, levou sua apreensão aos tucanos, manifestando o temor de que seu processo seja votado depois da CPMF, podendo ser prejudicado.   Os líderes do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), e do PT, senadora Ideli Salvatti (SC), foram surpreendidos pela decisão de Virgílio. "A oposição está bipolar", comentou a petista, lembrando que a própria oposição queria liquidar o caso Renan em 2 de novembro. Portanto, já estaria atrasada. A decisão de Arthur Virgílio de "embolar o meio de campo", como os senadores tucanos definiram a manobra, levará Renan a renovar sua licença da presidência do Senado que expira no dia 26.   A preocupação de Ideli é com a obstrução que a oposição está fazendo do plenário. Como a pauta está trancada por medidas provisórias, cabe aos governistas pôr quorum em plenário para que os prazos de tramitação possam ser contados.   Sessão aberta, voto fechado   Renan será julgado pela acusação de que ele usou "laranjas" para comprar emissoras de rádio em Alagoas. Desta vez, o julgamento do terceiro processo contra Renan será em sessão aberta no plenário do Senado, já que foi aprovado um projeto de resolução que alterou o regimento interno da Casa. No primeiro processo - do qual o senador foi absolvido - a sessão foi secreta. Já a votação continuará sendo secreta. Para que isso mude, o Congresso precisa aprovar uma proposta de emenda constitucional que acaba com o voto secreto em casos de perda de mandato.      Sucessão de Renan   No PMDB de Renan, já trabalham abertamente para substituí-lo pelo menos três senadores: Garibaldi Alves Filho (RN), Gerson Camata (ES) e Leomar Quintanilha (TO). Também é cogitado para o posto o líder da bancada Valdir Raupp (RO), que no entanto tem repetido que não é candidato. Quem corre por fora, com o apoio crescente do grupo de Renan e do senador José Sarney (PMDB-AP), e com a simpatia do Planalto, é o senador Edison Lobão (PMDB-MA). Embora insista em dizer que não pleiteia o cargo nem está em campanha, conforme orientou o líder Raupp, Lobão é visto hoje como o nome mais forte para suceder Renan.   Tantos peemedebistas candidatos só aumenta a tensão do Planalto. O temor do governo é que o maior partido da base aliada se volte inteiramente para a sucessão do Senado, e esqueça a CPMF. O único nome em torno do qual seria possível construir uma candidatura de consenso é do senador Sarney, mas ele já disse que não quer e se recusa a disputar dentro da bancada.   Pior, uma disputa dessa sempre provoca feridas e rachas internos que se aprofundam com a interferência do governo em favor de qualquer candidato. Portanto, uma renúncia de Renan antes de haver uma costura política interna, em torno da sucessão, só geraria dificuldades adicionais ao governo na votação da CPMF.   (Ana Paula Scinocca, João Domingos, Christiane Samarco, do Estadão)  

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