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Governistas querem tirar Álvaro Dias da CPI

Acuado pela base aliada, senador diz que crime é elaborar dossiê, não divulgar as informações, e afirma que Dilma deveria estar na mira

Por Luciana Nunes Leal , Eugênia Lopes e BRASÍLIA
Atualização:

Na guerra verbal travada durante as quatro horas de sessão da CPI, os governistas exigiram a saída do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) da comissão, sob o argumento é que ele é suspeito do vazamento do dossiê sobre gastos sigilosos do governo FHC. Enquanto isso, o tucano insistia na tese de que o crime era a elaboração, e não a divulgação, do documento. "Era a ministra Dilma Rousseff que deveria estar aqui. Não eu", disse Dias. "Não inventei dossiê nenhum. Não empurrem para mim o que fizeram de mal. Não joguem nas minhas costas a responsabilidade que não tenho." O tucano foi interrompido várias vezes pela deputada Perpétua Almeida (PC do B-AC), da base aliada do governo. "Atravessador de documentos sigilosos!", gritava ela. Dias não se abalava: "Busquem no Palácio do Planalto os responsáveis por esse crime de utilização da máquina pública para elaborar dossiê golpeando adversários políticos." O senador disse que Dilma foi a "ordenadora" do levantamento dos gastos do governo FHC. "Quem é responsável: o assalariado que manipulou informações e as armazenou nos computadores do Palácio do Planalto ou a ministra Dilma, que o comanda? E não estou chegando ainda ao presidente da República. Mas precisamos acabar com essa prática de que o crime existe, mas não existe o criminoso", cobrou. Dias informou aos parlamentares que, logo depois de ver o dossiê, a primeira pessoa a quem avisou de sua existência foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O senador negou ter divulgado o dossiê, mas disse que, se o tivesse feito, "não seria nenhum ilícito, porque os dados não eram sigilosos, foram auditados pelo Tribunal de Contas da União". "Não houve entrega de dossiê", insistiu o tucano, . "Eu vi, mas não recebi." E negou qualquer responsabilidade na divulgação dos dados sigilosos. Na linha de frente da tropa de choque governista, o deputado Sílvio Costa (PMN-PE), um dos mais próximos do ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, tentou evitar qualquer votação de requerimentos exigindo que antes Dias desse explicações. "O senador saiu da condição de investigador para a de suspeito", disse o deputado. "Só melhora meu currículo. Fico feliz de ser suspeito", ironizou Dias. "Isso é quebra de decoro!", interrompeu Perpétua. No meio do bate-boca, a presidente da CPI, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), tentava pôr ordem e reagia às acusações de Sílvio Costa. "O senador Álvaro Dias não é suspeito. Nenhum deputado ou senador vai ser retirado. Ninguém aqui é suspeito ou culpado", disse a senadora. Pouco antes, Sílvio Costa tinha pedido ao líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), que substituísse Dias na CPI. "Ele não tem condições de fazer perguntas. Peço ao nobre, bravo, ácido Arthur Virgílio que retire Álvaro Dias", afirmou o deputado. "Em nome da ética, mantenho o senador Álvaro Dias na CPI e exijo explicações da ministra Dilma", respondeu Virgílio. Costa levantou suspeitas de que o dossiê tenha sido elaborado por tucanos ligados a Fernando Henrique. "Será que o senador Álvaro Dias não pegou informações com Eduardo Jorge? Com o governo tucano?", provocou, referindo-se ao ex-ministro Eduardo Jorge Caldas Pereira, que foi coordenador da campanha da reeleição do ex-presidente, em 1998.

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