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Governistas e abstenções definiram resultado

Líderes aliados trabalharam para convencer colegas a ajudar senador

Por Rosa Costa e Ana Paula Scinocca
Atualização:

Brasília - A abstenção de seis senadores, o trabalho explícito dos líderes governistas a seu favor - a começar pelos do PT - e as ameaças aos colegas levaram ontem o plenário a absolver o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no processo que pedia sua cassação por quebra de decoro parlamentar. Quarenta senadores votaram pela absolvição, 35 pela cassação e 6 se abstiveram. Veja especial da sessão que livrou Renan da cassação Na prática, 46 senadores salvaram Renan e passaram por cima do parecer de Marisa Serrano (PSDB-MS) e Renato Casagrande (PSB-ES) aprovado no Conselho de Ética por 11 votos a 4. Em um dos primeiros telefonemas para um amigo, logo depois de encerrada a sessão, Renan disse apenas: "Sobrevivi." Foram 5 horas e 30 minutos de sessão, só formalmente secreta - na prática houve entra-e-sai de deputados autorizados a acompanhar o julgamento. Com momentos de tensão, negociação e até de tranqüilidade, a sessão foi uma peça em dois atos. No primeiro, a cassação era dada como certa. No segundo, com o corpo-a-corpo da líder do PT, Ideli Salvatti (SC), e de Aloizio Mercadante (PT-SP), o cenário passou a pender para Renan. Logo que começaram os discursos no plenário, parlamentares detectaram uma tendência pró-absolvição. A maioria dos senadores de oposição dispensou discurso contundentes, segundo relato de deputados que assistiram à sessão. Preferiram lembrar a orientação da direção de seus partidos e lamentaram ter de cassar o mandato de um colega. A oposição no Senado, contudo, atribuiu a absolvição diretamente ao PT. "Foram seis abstenções e seis era o número de senadores do PT que dizia votar conosco", afirmou Demóstenes Torres (DEM-GO). O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), foi mais duro e chegou a chamar de "delinqüentes" os que se isentaram de tomar posição. "Foi deplorável porque seis resolveram fazer o voto sujo, o voto bem calhorda da abstenção." Renan foi inocentado mesmo não tendo conseguido se defender da acusação de que teve despesas pessoais com a jornalista Mônica Veloso - com quem tem uma filha fora do casamento - bancadas com recursos do lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. No decorrer do processo, tampouco conseguiu explicar a evolução de seu patrimônio. Durante a sessão, Renan chantageou os colegas, ameaçando tornar públicos fatos relacionados à vida deles. Segundo relato de parlamentares, atacou diretamente a ex-senadora Heloísa Helena (AL), presidente do PSOL - partido responsável pela representação contra ele -, e os senadores Jefferson Péres (PDT-AM) e Pedro Simon (PMDB-RS).

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