Governistas correm o risco de perder maiores cidades do País

Aliados podem amargar derrotas em SP, RJ e Porto Alegre, onde pesquisas indicam chance de vitória da oposição

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Por Marcelo de Moraes
Atualização:

Mesmo ganhando as eleições municipais em grande parte das principais cidades do País, os partidos que integram a base de sustentação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva podem terminar o segundo turno com uma espécie de sensação amarga. Tudo porque as pesquisas de intenção de voto indicam chances reais de vitória de candidatos não alinhados com o Palácio do Planalto nos maiores colégios eleitorais do Brasil. Em São Paulo, pesquisas indicam a vitória de Gilberto Kassab, do DEM. No Rio de Janeiro, Fernando Gabeira (PV), crítico do governo Lula, tem chances reais de vitória. E em Porto Alegre, José Fogaça (PMDB), que faz oposição ao governo federal, lidera as pesquisas. Somadas, as três cidades representam cerca de 13,6 milhões de eleitores. Se as urnas confirmarem esse cenário, a situação cria um embaraço político para o governo em relação à sucessão presidencial de 2010. Mesmo com Lula exibindo altos índices de aprovação de seu governo, a oposição poderá contar com importantes administrações para tentar ampliar sua candidatura à sucessão presidencial. Em conversas, interlocutores diretos do presidente já reconhecem o desconforto com a situação. Em São Paulo, com as pesquisas apontando ampla diferença a favor da reeleição do prefeito Gilberto Kassab contra a petista Marta Suplicy, a eleição já é considerada perdida pelo governo. Representa muito essa derrota da base de Lula. A capital paulista possui o maior número de eleitores do País, com 8,1 milhões - número que certamente aumentará até 2010. Será gerida por um prefeito do DEM, partido que faz a oposição mais feroz ao governo federal dentro do Congresso. Mais: Kassab é ligado ao governador de São Paulo, José Serra (PSDB), hoje o principal nome da oposição para concorrer à Presidência. Mas não é apenas a possibilidade de derrota em São Paulo que preocupa a base de Lula. O presidente recomendou a seus aliados no Rio de Janeiro que se esforçassem ao máximo para auxiliar a vitória de Eduardo Paes (PMDB) contra Fernando Gabeira. Ex-deputado federal e secretário-geral do PSDB, Paes sempre foi crítico ferrenho do governo federal e do próprio Lula. Mas mudou de lado ao entrar no PMDB do governador do Rio, Sérgio Cabral Filho, aliado e amigo do presidente. Para Lula, é mais fácil relevar as críticas passadas feitas por Paes e auxiliar sua vitória do que ver o eleitorado carioca dar a vitória a Gabeira, considerado impossível de se alinhar com o pensamento do governo e aliado em potencial de Serra em 2010. Hoje, as pesquisas de intenção de voto indicam empate técnico no Rio e o governo torce e trabalha para que Paes vença e traga para o lado governista os cerca de 4,5 milhões de eleitores da capital do Rio. Mas a balança do poder aponta mais preocupações para Lula. José Fogaça caminha para ser reeleito em Porto Alegre, derrotando a petista Maria do Rosário. A capital gaúcha representa mais de 1 milhão de eleitores e uma eventual vitória de Fogaça barra o caminho de volta que o PT pretendia fazer em Porto Alegre, berço político de um dos principais núcleos de poder do partido. Em São Luís, no Maranhão, o PSDB deve vencer com João Castello, e cuidarão de uma cidade com 636 mil eleitores. Até em cidades onde governistas terão algum tipo de vantagem com qualquer resultado, existem complicações políticas. Em Belo Horizonte, um triunfo de Márcio Lacerda (PSB) representa a vitória de um partido da base aliada e do atual prefeito Fernando Pimentel (PT), que apóia sua candidatura. Mas, ao mesmo tempo, ajuda o governador tucano Aécio Neves, que também apóia Lacerda, e desagrada uma ala petista de Minas Gerais que discorda da parceria de Pimentel com um político de oposição. Ao mesmo tempo, a vitória de Leonardo Quintão (PMDB) também não representa um triunfo do governismo. Apesar de apoiado abertamente pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, e de representar um partido aliado, Quintão nunca recebeu apoio de Lula na campanha e pertenceu a um grupo político adversário de Fernando Pimentel e do PT em Minas. Seu pai, Sebastião Quintão (PMDB), inclusive, foi batido por Chico Ferramenta, do PT, na tentativa de reeleição para a Prefeitura de Ipatinga. Na visão do Planalto, é impossível prever com quem Quintão ou Lacerda se alinharão posteriormente, em caso de vitória. Salvador fecha o quebra-cabeça político do governo no segundo turno. O confronto entre João Henrique Carneiro (PMDB) e Walter Pinheiro (PT) assegura a presença de um governista no poder. Mas o choque entre os dois candidatos provocou grande mal-estar político entre os principais representantes do PT e PMDB da Bahia. Pior: o governo desconfia que o padrinho de João Henrique, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), caminhe para o afastamento político, abrindo, no futuro, um palanque local para Serra. Para impedir que Geddel abra essa dissidência, o próprio Lula fez questão de não interferir na campanha local, causando insatisfação entre os petistas, que temem pela derrota.

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