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Governadores ficam 373 dias no exterior

Soma feita pelo ?Estado? é resultado de viagens internacionais feitas por 21 chefes de Executivos estaduais no ano passado; Luiz Henrique (SC) lidera

Por Silvia Amorim
Atualização:

Com uma agenda de compromissos no exterior bastante intensa em início de mandato, governadores passaram o equivalente a um ano fora do País, em 2007, em viagens oficiais. O campeão dessas incursões é o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique (PMDB), que gastou quase um quarto do primeiro ano de sua nova gestão - ele foi reeleito - com visitas internacionais. Foram 56 dias de um total de 246 dias úteis. Somadas, as viagens de todos os governadores significam, pelo menos, 373 dias em 2007. A constatação faz parte de um levantamento feito pelo Estado nos últimos 15 dias com os 27 governos estaduais. Esse número, no entanto, é maior, porque três governadores não informaram sua agenda de viagens. Foram eles: José Roberto Arruda (Distrito Federal), Wilma de Faria (Rio Grande do Norte) e Binho Marques (Acre). A reportagem identificou que dois deles - Arruda e Marques - participaram de missões internacionais, conforme notícias veiculadas nas páginas de seus governos na internet. Ao todo, 21 dos 27 chefes dos Executivos estaduais viajaram ao exterior no ano passado (veja quadro ao lado). Somente cinco não tiveram compromissos de governo fora do País: Yeda Crusius (Rio Grande do Sul), Paulo Hartung (Espírito Santo), André Puccinelli (Mato Grosso do Sul), Ivo Cassol (Rondônia) e Waldez Góez (Amapá). Não há informações sobre a governadora potiguar. Depois de Luiz Henrique - que viajou a oito países, tendo visitado a França e os Estados Unidos duas vezes -, vem o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Ele despendeu 42 dias em missões oficiais a 7 países. Empatados na 3ª colocação, aparecem Blairo Maggi (Mato Grosso) e Roberto Requião, com 33 dias no exterior. O governador de São Paulo, José Serra, aparece em 7º lugar, com 27 dias fora do Brasil. Aécio Neves, de Minas, viajou menos ainda (20 dias). O governador de Roraima, Ottomar Pinto - que morreu em janeiro -, e Alcides Rodrigues (Goiás) são os que menos viajaram em 2007. Em número de países visitados, o recordista é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que voou para 10 países entre janeiro e dezembro. FUTEBOL Reuniões com instituições financeiras e empresários para atração de investimentos e palestras lideram a lista de compromissos apresentada pelos Estados. Mas foi o futebol que reuniu mais chefes de Executivos estaduais em um único evento no exterior em 2007. Na cerimônia de anúncio do Brasil para sede da Copa do Mundo de 2014 em Zurique, na Suíça, a convite da Fifa, apareceram 12 governadores, além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas a permanência no país variou bastante entre os políticos. Cabral fez a viagem mais demorada - sete dias. Eduardo Campos foi o mais rápido - só um dia. Os objetivos fora do País variam conforme a vocação do Estado. O governador do Amazonas, Eduardo Braga, por exemplo, foi duas vezes aos Estados Unidos no ano passado para participar de uma maratona de fóruns internacionais sobre o meio ambiente. Jacques Wagner, da Bahia, foi a Lisboa, a convite de uma empresa especialista na implantação de estádios em Portugal, para fazer um tour pelos campos do Benfica e do Sporting Lisboa antes mesmo da definição de que o Brasil sediaria a Copa. O incremento na agenda externa dos governadores é um fenômeno recente no Brasil. "Ele começa nos anos 80 com a redemocratização do País e o pioneiro foi o ex-governador do Rio Leonel Brizola", diz o professor de Direito Internacional Gilberto Marcos Antonio Rodrigues, autor da tese Política externa federativa: análise de ações internacionais de Estados e municípios brasileiros. GLOBALIZAÇÃO Mas é na década de 90, com a globalização, que a prática ganha força e os governadores se lançam pelos continentes em busca, principalmente, de recursos que impulsionem o desenvolvimento econômico regional e a geração de empregos. A Constituição, no entanto, não reconhece aos Estados o direito de manter relações com outros países. "É natural que um Estado queira vender seu peixe no exterior", diz a diretora-executiva do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Denise Gregori. "Agora, isso precisa ser feito com planejamento e responsabilidade, já que quem paga essas viagens é a população", pondera Rodrigues. A única maneira de garantir que essas viagens sejam pautadas pelo interesse público, diz o professor, é uma rigorosa fiscalização do Legislativo e da sociedade. Dos 27 governos consultados pelo Estado, apenas cinco informaram os custos das viagens em 2007 aos cofres estaduais - São Paulo, Alagoas, Pará, Pernambuco e Maranhão.

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