A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), anunciou nesta quarta-feira, 23, que processará o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Fabiano Pereira (PT), pelas insinuações que ele fez sobre a compra de uma casa de R$ 750 mil, feita por ela, ao fim da campanha política de 2006. "Ele vai ter de provar o que diz", afirmou Yeda. Ela ainda não decidiu qual o tipo de ação que moverá. Nos próximos dias, Yeda contratará um advogado, com quem discutirá se fará apenas uma interpelação judicial ou iniciará processo criminal ou civil para pedir reparação. O tema da casa de Yeda foi levantado pelo deputado Paulo Azeredo (PDT). No dia 15, em sessão da CPI que investiga fraude de R$ 40 milhões no Detran, Azeredo citou uma informação da polícia indicando que uma residência da rua onde mora a governadora do Rio Grande do Sul teria sido parcialmente paga com resíduos da campanha política, para perguntar ao depoente, o secretário de Governo da prefeitura de Canoas (RS), na Grande Porto Alegre, Francisco Fraga, se ele sabia do caso. A resposta foi não, mas o assunto começou a ganhar corpo. Na quinta-feira, em entrevista à Rádio Gaúcha, Yeda disse que reuniu o dinheiro da venda de um apartamento em Brasília, de um imóvel em Capão da Canoa, no norte do Estado, e de um carro e tomou um financiamento no Banrisul para fazer o negócio, informado nas declarações à Receita Federal. O presidente da CPI do Detran afirmou que os dados da governadora não fechavam com a declaração de bens apresentada na campanha política. Depois de saber que será processado, Pereira disse que nunca fez ataques pessoais a Yeda. "Apenas estranhei que a aquisição do imóvel tenha ocorrido logo após o período eleitoral, com boa parte dos valores à vista, quando as finanças da maioria dos candidatos operam no vermelho", afirmou. "A CPI e o povo gaúcho querem que a governadora explique e não faça ameaças", sugeriu. "Se a explicação for convincente, o assunto fica logo encerrado." PT A bancada do PT na Assembléia Legislativa, composta de dez deputados, solidarizou-se com o presidente da CPI. "Se a governadora quer processá-lo, que processe a todos nós porque endossamos a atuação do presidente da CPI", desafiou o líder do partido na Assembléia, Raul Pont, que considera a atitude de Yeda uma intimidação do governo do Rio Grande do Sul à Casa. A polêmica surgiu no âmbito da comissão em andamento no Legislativo, que tenta ampliar uma investigação da Polícia Federal (PF) que revelou uma fraude de R$ 40 milhões praticada supostamente por dirigentes do Detran, fundações contratadas e empresas terceirizadas. A PF descobriu que a autarquia contratou sem licitação a Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência (Fatec), ligada à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em 2003. A Fatec, por sua vez, repassava os serviços de elaboração de provas para emissão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) de motoristas a empresas terceirizadas. Os serviços eram superfaturados e parte do rendimento era repassada a diretores do Detran.