O presidente nacional do PT, Rui Falcão, recorreu a uma frase que remete à Guerra Civil espanhola (1936-1939) para se manifestar, nesta quarta-feira, 2, sobre a decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de aceitar a abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
“Golpistas não passarão”, escreveu Falcão em uma rede social com a marcação #NãoVaiTerGolpe.
O canal usado pelo presidente do PT foi o mesmo no qual ontem Falcão anunciou que apoiaria a continuidade do processo que pode levar à cassação de Cunha no Conselho de Ética da Câmara.
Antes mesmo de Cunha fazer o anúncio a direção do PT já dava como certa a abertura do processo de impeachment.
“Temos que encarar. Não podemos viver sob ameaça e chantagem”, disse Jorge Coelho, um dos vice-presidentes da legenda.
A certeza do PT vinha do fato de a bancada do partido na Câmara ter decidido, no início da tarde desta quarta-feira, fechar questão em favor da continuidade do processo contra Cunha, contrariando acordo fechado entre o governo e o presidente da Câmara.
Segundo dirigentes do partido, tanto o posicionamento de Falcão quanto a decisão da bancada foram ações calculadas que já levavam em conta o cenário do processo de impeachment.
Antes de publicar a mensagem defendendo a continuidade do processo contra o presidente da Câmara, Falcão, conversou por telefone com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo relatos de interlocutores do ex-presidente e do dirigente petista, que estava no interior do Acre na terça-feira à tarde, Lula disse que a direção do partido tinha autonomia e discernimento para decidir sobre o assunto. Conforme integrantes da cúpula petista, “Rui não faria nada em discordância com Lula”.
Falcão sabia que a decisão de apoiar o processo contra Cunha seria o estopim do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff mas vinha sofrendo forte pressão da base partidária. De acordo com dirigentes do PT, desde o início da semana militantes de todo o País telefonavam para a sede do partido ou mandavam e-mails pedindo que a sigla se posicionasse frontalmente contra o peemedebista sob o risco de o partido perder de vez as condições de reabilitar a imagem combalida por intermináveis denúncias de corrupção.
O presidente do PT vinha se esquivando das cobranças para reunir a Executiva Nacional do partido e deliberar sobre a orientação que a direção daria aos três petistas que integram o Conselho de Ética.
Na última reunião, no início de novembro, a Executiva havia determinado que a bancada do partido no colegiado votaria unida seguindo ordem da direção.
A cúpula petista acreditava que não seria necessário se posicionar formalmente, o que poderia levar Cunha a deflagrar o processo de impeachment. Para vários dirigentes e parlamentares, o peemedebista “cairia sozinho” diante das fortes denúncias de corrupção reveladas pela Operação Lava Jato e da pressão da opinião pública.
O quadro mudou na terça-feira, quando ficou claro que os votos petistas seriam decisivos para determinar o destino de Cunha e a pressão sobre os três representantes do partido se tornou insuportável, ao ponto de um deles, Zé Geraldo (PT-PA) dizer que iria votar “não com uma faca mas com uma metralhadora no pescoço”.
Recurso."Essa foi uma atitude revanchista do presidente da Câmara", afirmou o deputado Paulo Pimenta (PT-RS). "O anúncio é resultado do abuso de poder que o presidente da Câmara vem praticando desde que assumiu a Casa. O argumento justificado por ele não se sustenta", disse o deputado Wadih Damous (PT-RJ).
O petista ressaltou que, se preciso, o PT "baterá a porta do Supremo" para barrar o processo. "Cunha, associado a partidos da oposição, que dar o golpe", afirmou, lembrando que a sigla estudará medidas internas para barrar o processo também no plenário da Câmara. COLABORARAM IGOR GADELHA, DAIENE CARDOSO E DANIEL CARVALHO