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Gim Argello foi um dos principais articuladores da base governista no 1º mandato de Dilma

Ex-senador pelo Distrito Federal assumiu a cadeira no Senado em julho de 2007, pois era primeiro suplente de Joaquim Roriz; ele foi preso pela Operação Lava Jato nesta terça-feira, 12

Por Elizabeth Lopes
Atualização:
O ex-senador pelo DFGim Argello Foto: Dida Sampaio/Estadão

SÃO PAULO - O ex-senador Gim Argello (PTB), preso nesta terça-feira, 12, na nova fase da Lava Jato, foi um dos principais articuladores da base governista no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT). Ele assumiu a cadeira no Senado em julho de 2007, pois era primeiro suplente de Joaquim Roriz, que renunciou ao cargo depois da repercussão de gravação telefônica em que ele discutia a partilha de um cheque de R$ 2,3 milhões. Na ocasião, a posse de Argello foi questionada por algumas legendas, como o PSOL, em razão dele responder na época a, pelo menos, seis processos ou inquéritos civis e criminais.

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Pela boa relação com o governo Dilma, em 2014 o petebista protagonizou uma disputa para a indicação a uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU). O nome de Gim Argello tinha respaldo do Palácio do Planalto e de senadores da base aliada como estratégia para aproximar o PTB da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff naquele ano. Mas diante das fortes resistências a seu nome, inclusive internas da própria instituição, ele teve de desistir da indicação. Isso por conta das investigações que envolviam o seu nome e por ter sido condenado pela Justiça a devolver dinheiro por irregularidades cometidas na época em que presidiu a Câmara Legislativa do Distrito Federal, entre 2001 e 2002. Ele sempre negou as irregularidades.

Depois de ter atuado como um dos principais articuladores do governo Dilma em seu primeiro mandato, Gim Argello rompeu com o governo petista nas eleições para o governo do Distrito Federal, em 2014, quando apoiou o ex-governador José Roberto Arruda (PR), contra o candidato do PT Agnelo Queiroz, num pleito que foi vencido por Rodrigo Rollemberg (PSB). Gim Argello tentava a reeleição para o Senado federal, mas não se reelegeu.

A nova fase da Lava Jato, deflagrada nesta terça-feira, 12, e batizada de Vitória de Pirro, apura indícios de que "destacado integrante" da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada no Senado Federal e também da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), instaurada no Congresso Nacional, ambas com o objetivo de apurar irregularidades no âmbito da Petrobra, em 2014, teria atuado de forma incisiva no sentido de evitar a convocação de empreiteiros para prestarem depoimento, mediante a cobrança de pagamentos indevidos travestidos de doações eleitorais oficiais em favor dos partidos de sua base de sustentação. O ex-senador Gim Argello (PTB) era o vice-presidente da CPMI, por indicação da base do governo no Senado. E participou também da CPI exclusiva do Senado.

Ex-senador doDF, GimArgello foi preso na Operação Lava Jato Foto: Ed Ferreira/Estadão

As duas CPIs foram criadas após o Estado revelar que a presidente Dilma Rousseff votou a favor da compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), quando presidente do conselho de administração da Petrobrás. O negócio é considerado um dos piores da história da empresa.

Em depoimento de delação premiada, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) afirmou que integrantes da CPI mista da Petrobrás, encerrada em 2014, recebiam propina em dinheiro vivo para evitar a convocação de empreiteiros investigados na Lava Jato. O senador citou Gim Argello (PTB-DF), então vice-presidente da comissão, como integrante do núcleo responsável pelo achaque.

Delcídio contou que reuniões semanais eram feitas entre os congressistas e os executivos para discutir requerimentos “sensíveis” da CPI e a estratégia para derrubá-los. Os encontros ocorreriam nas noites de segunda-feira, alguns na casa de Gim. O petebista seria o coordenador do grupo que pedia dinheiro a empreiteiros.

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O diretor financeiro da UTC Engenharia, Walmir Santana, outro delator da Lava Jato, afirmou que Gim Argello atuaria para que o empreiteiro Ricardo Pessoa não fosse chamado a depor na CPMI da Petrobrás em 2014. Em contrapartida, Ricardo Pessoa faria contribuições em favor de pessoas indicadas por Gim Argello.

O nome de Argello apareceu também na delação premiada do empreiteiro da UTC, Ricardo Pessoa, da UTC, como beneficiário de mais de R$ 4 milhões, dos cerca de R$ 8 milhões doados pelas empreiteiras investigadas às campanhas de políticos da Capital Federal, para abafar apuração da CPMI.

Na nova etapa da Lava Jato deflagrada hoje, a 28ª, Gim Argello foi preso preventivamente. Endereços do ex-parlamentar foram revistados e dois assessores que trabalharam com ele também foram alvos da operação.