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General Newton Cruz morre aos 97 anos no Rio

Ele chefiou a Agência Central do Serviço Nacional de Informações (SNI) durante a ditadura militar

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Foto do author Rayanderson Guerra
Por Rayanderson Guerra
Atualização:

RIO - O general de divisão reformado do Exército Newton Cruz morreu na noite dessa sexta-feira, 15, aos 97 anos, no Hospital Central do Exército, em Benfica, no Rio de Janeiro. O militar foi chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informações (SNI) durante a ditadura militar, entre 1977 a 1983, e do Comando Militar do Planalto. Foi também um dos acusados pelo atentado do Riocentro, em 1981.

A causa da morte não foi divulgada. Ele deixa quatro filhos e será cremado neste domingo, 17, no crematório da Penitência, no cemitério do Caju, na zona norte do Rio. 

O general Newton Cruz durante discurso em Brasília em março de 1984. Foto: Adão Nascimento/Estadão

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Newton Cruz nasceu em 24 de outubro de 1924, no Rio de Janeiro. Ele entrou no Exército em 1941, sendo promovido a general-de-brigada em abril de 1976. Naquele ano, foi nomeado comandante da Artilharia Divisionária, em Pouso Alegre (MG). Um ano depois, deixou o regimento de cavalaria que comandava em Minas Gerais para assumir o cargo de chefe da Agência Central do SNI. 

Considerado um dos principais defensores da ditadura, o general ficou conhecido não apenas por não ter impedido o atentando no Riocentro – o mais emblemático de uma série de explosões provocadas por agentes da repressão, insatisfeitos com o processo de abertura política –, mas por falas polêmicas e jeito agressivo. 

Em 1983, ao conceder uma entrevista coletiva, pegou um jornalista pelo pescoço depois de mandá-lo calar a boca e o arrastar pelo braço. Um ano antes de deixar o posto, teria sido um dos responsáveis pela destruição de milhares de documentos do regime.

Em 1994, filiou-se ao PSD e concorreu ao governo do Rio – ficou em terceiro lugar, com 14% dos votos válidos. Vinte anos depois, em 2014, Cruz foi listado pela Comissão da Verdade como um dos 377 militares que cometeram crimes durante a ditadura. 

Caso Riocentro

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Na noite de 30 de abril de 1981, uma bomba explodiu em um carro Puma no estacionamento do centro de convenções, em Jacarépaguá, no Rio. Naquele momento, a cantora Elba Ramalho se apresentava no palco do show de 1º de maio para uma plateia de 20 mil pessoas.

Logo após o atentado, o Exército instaurou um inquérito policial militar (IPM) destinado a apurar o caso. A investigação foi conduzida pelo então coronel Job Lorenna de Sant’Anna, que atribuiu os fatos a terroristas de esquerda.Em 1999, o então chefe do Ministério Público Militar, Kleber de Carvalho Coêlho, determinou a abertura de uma nova investigação para apurar o atentado. Desta vez, as investigações foram conduzidas pelo general Sérgio Conforto, que passou para a reserva em 2010.

General Newton Cruz nos corredores do Congresso em 1999. Nesse ano, uma investigação foi aberta para investigar o atentado do Riocentro. O general foi indiciado por falso testemunho, mas a corte acabou arquivando o feito Foto: DIDA SAMPAIO/AE - 04/05/99

O novo IPM resultou no indiciamento de Wilson Machado (por homicídio qualificado) e de Newton Cruz (por falso testemunho). A denúncia foi aceita pelo Superior Tribunal Militar (STM) meses depois, mas na hora de decidir o mérito do caso, em maio de 2000, a corte militar arquivou o feito, livrando os dois acusados.

A decisão do STM foi referendada em março de 2001 pela 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal. Na ocasião, o colegiado era integrado pelos ministros Marco Aurélio Mello, o relator do caso, Nelson Jobim e Néri da Silveira. “É hora de terminar com esse episódio”, disse Marco Aurélio ao votar.

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A investigação oficial mais ampla e definitiva começou apenas em 2012 e foi feita pelo Ministério Público Federal do Rio. Segundo o MPF, Newton Cruz, que já era general e chefiava a poderosa Agência Central do SNI, soube do atentado de antemão (ao menos uma hora antes) e autorizou que fosse adiante. Os procuradores pediram uma pena mínima de 36 anos e seis meses de prisão para o ex-chefe do SNI. Cruz foi acusado pelos crimes de homicídio tentado, formação de quadrilha ou bando, transporte de explosivos, fraude processual e favorecimento pessoal.

Dos 15 acusados de envolvimento quando a denúncia foi oferecida, em 2014, só cinco continuavam vivos - Cruz era um deles. Mas, apesar de ter sido aceita pela 1ª Instância da Justiça Federal, o MPF acabou derrotado depois, tanto no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) quanto no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo.

Caso Alexandre von Baumgarten

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Em 1983, Newton Cruz teve o nome envolvido no caso do assassinato do jornalista Alexandre von Baumgarten, ex-diretor da extinta revista O Cruzeiro. O “caso Baumgarten” teve início na madrugada do dia 13 de outubro de 1982, quando o jornalista e sua mulher, Jeannete Hansen, foram sequestrados no cais de embarque da praça XV de Novembro, no Rio, e levados para local ignorado.

No dia 15, Von Baumgarten foi executado em Teresópolis (RJ) e a mulher dele dias depois. O corpo do jornalista apareceu semanas depois numa praia do Recreio dos Bandeirantes, com marcas de tiros, embora o laudo do Instituto Médico Legal tenha informado que a morte foi causada por afogamento.

De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), um dossiê mostrou que o jornalista revelou ter encontrado Newton Cruz para obter verbas para a revista, da qual era diretor. O general negou seu envolvimento e afirmou ter recebido informações sobre a identidade daquele que seria o responsável pelo assassinato, sem revelar o nome. 

Em agosto de 1983, Newton Cruz deixou a chefia da Agência Central do SNI e assumiu o Comando Militar do Planalto (CMP) e a 11ª Região Militar. 

Há cerca de sete anos, em 2014, Newton Cruz foi apontado pela Comissão da Verdade como um dos 377 militares que cometeram crimes durante a ditadura.

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