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TSE prevê gastos de 59 milhões com segurança armada para proteger ministros nas eleições

Investimentos em proteção e vigilância ocorrem em meio a ataques de apoiadores de Bolsonaro ao sistema eleitoral

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Por Weslly Galzo
Atualização:

BRASÍLIA - O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) prevê um gasto de até R$ 59 milhões em segurança armada pelos próximos dois anos e meio – período que inclui as eleições de outubro. O montante abrange despesas com proteção privada em residências de ministros, vigilantes armados nas dependências da Corte e grades de metal. O valor será destinado à renovação do contrato de uma empresa terceirizada que expirou no início deste ano.

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Em 2017, a Corte firmou um contrato de R$ 16 milhões com a empresa que fez a vigilância armada do tribunal até o início deste ano. Desde então, o custo anual do tribunal com segurança privada se manteve, o que equivale a uma despesa mensal de R$ 1,3 milhão. Caso a renovação prevista para os próximos dois anos e meio utilize totalmente os recursos fornecidos pelo tribunal, o gasto mensal subirá para cerca de R$ 2 milhões por mês.

Num momento de crise econômica, o reforço na segurança pessoal será destinado apenas a um seleto grupo de juízes. Com exceção dos ministros que assumem as cadeiras destinadas a advogados – como Carlos Horbach, Sérgio Banhos e alguns suplentes –, os demais integrantes do colegiado já são servidos pela polícia judicial dos respectivos tribunais. A proteção se aplica aos magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A licitação em curso confere, portanto, um grau adicional de resguardo aos integrantes de tribunais superiores.

Proteção garante independência do Poder Judiciário, afirma TSE Foto: Dida Sampaio/Estadão

No edital de contratação deste ano, o setor de licitações do TSE argumenta ser necessário o investimento em vigilância armada, incluindo a casa dos magistrados, para “resguardar a democracia e o trâmite dos processos da Justiça Eleitoral”. A Corte afirma ser preciso proteger “o patrimônio e a integridade física dos senhores ministros”, assim como os “inúmeros processos que estão em suas residências para julgamento”, uma vez que “tais autoridades constituem o nível máximo de representação da Justiça Eleitoral”. No processo parcial de licitação, sem serem aprovados critérios técnicos, a empresa favorita para vencer a disputa deu um lance de R$ 47 milhões para oferecer os serviços.

O aumento de despesas em segurança ocorre em meio a ataques ao processo das eleições por parte do presidente Jair Bolsonaro e de sua militância. Empossado presidente do tribunal com o slogan “paz e segurança nas eleições”, o ministro Edson Fachin e a instituição demonstram se preparar, desde o início deste ano, para um cenário de confronto.

'Padrão'

Ao Estadão, a assessoria do TSE descartou a hipótese de que as contratações sejam voltadas a possíveis episódios de violência durante as eleições. Segundo o tribunal, as grades de proteção são “equipamento padrão utilizado em eventos diversos”, desde a organização do tráfego ao isolamento de áreas e “segurança orgânica”. O tribunal também informou não ter identificado riscos de depredação ou vandalismo da sede que justificassem a aquisição. “Tudo isso visa a garantir a autonomia e independência do Poder Judiciário e seus membros, sendo que o TSE, dos Tribunais Superiores, era o que detinha a mais acanhada estrutura de segurança, o que vem demandando gastos para prover sua Polícia Judicial de condições de cumprimento de suas atribuições de segurança orgânica e pessoal”, disse o TSE. 

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'Riscos'

Professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio), Wallace Corbo vê relação do investimento em segurança por parte do TSE à crescente onda de ameaças à realização das eleições. Para ele, o gasto com vigilância na casa dos ministros está vinculado também à vulnerabilidade desses locais em comparação com os tribunais, aos riscos de ataques a seus familiares e à possibilidade de violação de processos sigilosos. 

Corbo afirmou que uma investida violenta nessas áreas teria efeitos no exercício das funções dos ministros em um período decisivo para a Justiça Eleitoral. “Os magistrados não podem estar sujeitos a decidir com medo desses riscos”, disse. Ele observou que os ministros, assim como o tribunal, já têm uma estrutura de segurança. “Porém, quando chegamos a uma situação extraordinária como a de hoje, com riscos sem precedentes à democracia e às eleições, faz algum sentido, aparentemente, que o TSE adote medidas adicionais, com custos adicionais também sem precedentes.”

STF em alta voltagem

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O aumento do aparato de segurança também ocorre no STF. Cercado por grades desde 2019, o Supremo contará a partir de agora com novos armamentos não letais para reforçar a segurança. O tribunal recebeu dez armas de choque, cem cartuchos de recarga, um traje especial e um alvo para a realização de treinamentos. O material foi doado pelo consórcio multinacional Advanta e Axon, que também fornece ao governo de São Paulo câmeras de monitoramento das atividades de policiais militares.

A doação não gerou custos ao Supremo, que testa a capacidade operacional dos equipamentos para eventualmente adquirir mais armas. Em nota, a Corte afirmou que a Secretaria de Segurança trabalha com “diversos cenários de planejamento” para as eleições e mantém exercícios “permanentes e sistemáticos” com foco em “identificar, avaliar e acompanhar ameaças reais ou potenciais aos ativos do tribunal”. Neste cenário de vigilância constante, o colegiado disse já contar com planos de ações “preventivas, preditivas e reativas” para cada situação estudada. Questionado pelo Estadão, o Supremo disse que já dispunha de algumas armas de choque antes da doação, além de informar que não há previsão de novas aquisições. A Corte também afirmou que o consórcio a procurou para fazer a doação e que os dispositivos não fazem parte de programas especiais de segurança nas eleições.

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