Garotinho entra no segundo dia em greve de fome

Ele passou todo o dia numa sala da sede regional do PMDB, num edifício do Centro do Rio, atrás de uma porta de vidro em que se deixa fotografar, mas não conversa com os jornalistas

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Por Agencia Estado
Atualização:

O ex-governador Anthony Garotinho, um dos pré-candidatos à Presidência do PMDB, demonstrou nesta segunda, dia 1º, que pretende prosseguir com a greve de fome que iniciou no final da tarde de domingo. Ele passou todo o dia numa sala da sede regional do PMDB, num edifício do Centro do Rio, atrás de uma porta de vidro em que se deixa fotografar, mas não conversa com os jornalistas, apesar de reivindicar espaço para defender-se das denúncias que envolvem a doação de recursos para sua pré-campanha. Na maior parte do tempo, ele teve a companhia da mulher, a governadora do Rio, Rosinha Matheus. Big Brother Garotinho escolheu para o que classificou de "sacrifício" uma sala com uma porta de vidro, que permanece fechada sem impedir que ele seja observado todo o tempo, numa espécie de Big Brother. Os jornalistas, assessores e cabos eleitorais o observam do corredor. Bem de frente para a porta fica um sofá onde Garotinho dormiu por volta da meia-noite de domingo, quando Rosinha foi dormir no Palácio Laranjeiras. A sala tem um frigobar com garrafas de água mineral e, no fundo um pequeno banheiro, onde o ex-governador tomou banho e trocou de roupa depois de acordar por volta das 7 horas desta Segunda. Garotinho foi examinado por seu médico particular, Abdu Neme, que divulgou um boletim por volta das 11 horas. Segundo o médico, o ex-governador estava "lúcido, orientado, afebril e hidratado" e apresentava batimento cardíaco regular e pressão sob controle. O jejum forçado, segundo o médico, já tinha resultado na perda de 700 gramas até o final da manhã. Na pesagem de domingo, Garotinho tinha 89,9 quilos. Drama Durante todo o dia, o ex-governador alternou orações, conversas com correligionários, a leitura de um livro religioso e anotações. Em alguns momentos, apagava a luz e deitava-se no sofá e permanecia imóvel diante dos flashes dos fotógrafos como se dormisse. Foi num desses momentos que, por volta do meio-dia, Rosinha chegou trazendo sete de seus nove filhos. A família se abraçou e fez uma oração. Sentados no chão em torno do pai, que permanecia deitado, as crianças o abraçaram e uma delas, Clara, de 11 anos, chorou muito. O tom dramático se repetiu no semblante de consternação da governadora e de muitos outros colaboradores que saíam do escritório depois de visitá-lo. Entre eles estavam o candidato derrotado à Prefeitura de Campos, Geraldo Pudim, o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (PMDB), o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e secretários do governo Rosinha. Caciques do PMDB do Rio como o deputado Moreira Franco e o senador Sérgio Cabral Filho, candidato ao governo do Estado com o apoio do casal Garotinho, não apareceram. O ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa, organizador do programa de governo do PMDB, ficou cerca de meia hora com Garotinho e contou que o ex-governador parecia determinado em seguir com o jejum. Lessa disse que não tomaria a decisão de fazer uma greve de fome - "Eu sou muito guloso", justificou - mas disse entender Garotinho porque sentiu "na carne" a influência dos meios de comunicação. Para ele, o ex-governador não tem espaço de defesa na mesma proporção das denúncias. Na mesma linha, o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azedo, não quis analisar o mérito das queixas do ex-governador, mas enxergou procedência nas reivindicações de Garotinho por direito de resposta. "Os meios de comunicação são muito poderosos. Se decidem esmagar uma pessoa, esmagam e o ofendido tem de recorrer aos meios mais vigorosos de autodefesa, senão sucumbe diante dessa força que busca esmagá-lo". A carta lida ontem por Garotinho, na qual o ex-governador também apela por "supervisão internacional no processo político-eleitoral brasileiro", foi enviada, segundo seus assessores, ao presidente da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Migel Musso Nusulza, por fax. O escritório brasileiro da OEA em Washington não quis se pronunciar sobre o assunto. O embaixador Rubens Barbosa, que representou o Brasil nos Estados Unidos até 2004, afirmou que o envio da carta de Garotinho à OEA, não tem outra finalidade senão um "gestual político". "Qualquer acompanhamento de uma eleição tem que ser solicitado pelo próprio governo à OEA ou, no mínimo, ter sua aprovação". Segundo o embaixador, o acompanhamento da campanha eleitoral solicitado pelo ex-governador do Rio também é inadequado. "A OEA somente enviaria observadores para o dia da eleição e não para acompanhar o processo que a antecede", disse. Para ele, não há hoje "base legal" para que o pedido de Garotinho seja aceito pela entidade internacional, devido ao atual regime democrático brasileiro.

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