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Funk, proteção divina e rituais sem água na guerra antidengue

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Por PEDRO FONSECA
Atualização:

Na guerra contra a epidemia de dengue no Rio de Janeiro vale tudo. Rituais de umbanda são modificados, fiéis clamam por proteção divina contra o "Aedes aegypti", agentes de saúde se vestem de mosquito e um funk canta que "o mal da dengue é forte, mas podemos superar". Ao menos 80 pessoas morreram este ano no Estado vítimas da doença, que já contaminou mais de 75 mil pessoas, na proporcionalmente mais letal epidemia de dengue registrada oficialmente no Rio. Em 2002, morreram 91 pessoas em 288 mil casos. Enquanto Exército e bombeiros combatem focos de reprodução do mosquito transmissor nas ruas, e as pessoas continuam atrás de atendimento nos hospitais, na Igreja Universal do Reino de Deus os fiéis buscam proteção divina. Um folheto da igreja lembra que o significo de "Aedes aegypti", mosquito transmissor da doença, é "desagradável do Egito", numa referência à história bíblica das pragas enviadas contra o faraó que manteve o povo de Israel em cativeiro. "De fato não deixa de ser uma praga, quem tem que ser combatida. Fazemos uma oração de proteção divina para as pessoas. Se você quer pedir uma proteção para que o mosquito não te atinja, nós pedimos", disse à Reuters o bispo Renato Maduro, responsável pela celebração nas manhãs de domingo na Catedral Mundial da Fé, em Del Castilho, zona norte do Rio. "O milagre não é descartado... então a igreja entra com o óleo, e a pessoa que tiver fé pode receber a graça de Deus", acrescentou. O bispo ressaltou que aos domingos, normalmente, os fiéis são ungidos com óleo para proteção. Mas não é apenas na igreja que o combate à dengue tem sido tratado. Em centros de religiões afro-brasileiras do Rio, o uso de copos d'água nos rituais está sendo restringido. O mosquito da dengue deposita seus ovos em água limpa e parada. "Trabalho em copo d'água, só em último caso mesmo. E ainda assim colocamos algum paninho em cima para tampar", disse Jorge Luiz de Ogum, presidente da União dos Templos de Umbanda e Candomblé. Sobre a possibilidade de tratar a água com larvicida ou cloro, o que impedira a reprodução do mosquito, ele respondeu: "Água com cloro não dá, aí não vai funcionar." Até mesmo entre os profissionais especializados no combate à epidemia, saídas alternativas encontram espaço. Equipes de agentes de saúde vão às ruas da cidade vestidos de mosquito para ensinar às crianças métodos de prevenção da doença. Os 19 agentes fantasiados, funcionários da Secretaria Municipal de Saúde, fazem um trabalho educativo em comunidades carentes, apresentando esquetes sobre o desenvolvimento do mosquito e as formas de impedir que ele se reproduza. Uma outra agente de saúde antidengue recorreu ao popular ritmo carioca do funk para alertar sobre os riscos da doença. A MC Dengosa, que na verdade é a agente Heloísa Faria da Costa, repete em refrão os alertas feitos à exaustão pelas autoridades. "Não deixe água parada, isso é primordial. O mal da dengue é forte, mas podemos superar, o mosquito 'Aedes aegypti' ele não vai nos vencer", diz a letra da música.

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