Funai quer apurar ação da PM contra índios em Manaus

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Por André Alves
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A procuradora da Fundação Nacional do Índio (Funai)Eliane Saffair prometeu enviar ao Ministério Público Federal um pedido de investigação sobre a ação da Polícia Militar do Amazonas, anteontem, no cumprimento de mandado de reintegração de posse em um terreno privado, na rodovia AM-010, na zona rural de Manaus. Ela atesta que vários índios ficaram feridos e remeterá aos procuradores os exames de corpo de delito feitos no 12º Distrito Policial. A área onde ocorreu o conflito havia sido invadida por um grupo de 200 pessoas, sendo 105 índios. Eliane critica os policiais: "Poderiam detê-los, mas sem usar de violência." Já o administrador da Funai em Manaus, Edgar Rodrigues, diz que a ação se deu dentro dos limites legais. "A PM apenas cumpriu um mandado judicial." Mãe de três filhos e grávida de quatro meses, a índia Valda Ferreira de Souza, de 22 anos, da etnia sateré-mawé, ainda sentia ontem fortes dores nos braços e nas costas, após ter enfrentado praticamente sozinha o batalhão de 150 homens que cumpriu o mandado de reintegração. Ela conta que não teve medo: "Na hora que eu vi eles pegando o meu marido e começando a enfocar ele, parei lá e decidi não sair, a não ser que eles me carregassem." Grávida, Valda foi retirada do terreno junto com o marido, André Awiató, de 25 anos, e os três filhos - incluindo uma criança de 1 ano e oito meses, que ela segurou no colo ao enfrentar a PM. "Eles começaram a me chutar, a me empurrar. Não quiseram saber se eu estava com um filho no colo ou grávida. Na hora, eu nem sentia a cacetadas porque estava com muita raiva. Eu parei mesmo lá. Não queria saber se eles iam me matar ou matar meu filho", declarou. A sensação, relatou, foi de grande humilhação. "Me senti humilhada, como se eu não valesse nada. Como se eu fosse um cachorro. Acho que nem um cachorro merece ser pisado do jeito que me chutaram." A índia contou que foi morar na área invadida a convite de parentes, que acreditavam ter encontrado um lugar melhor para viver. Antes, eles moravam em um casebre de madeira, próximo de uma ribanceira, para onde tiveram de voltar. "É área de risco. Quando chove, a água vai levando tudo", relata.

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