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Funai apura assassinato de criança indígena no Maranhão

Crime teria ocorrido entre setembro e outubro do ano passado, na Terra Indígena Arariboia, no município de Arame, a 469 km de São Luís

Por Roldão Arruda e colaborou Ernesto Batista
Atualização:

A Fundação Nacional do Índio (Funai) vai investigar a denúncia de assassinato de uma criança indígena no interior do Maranhão. Segundo informações divulgadas na sexta-feira, 6, pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a criança fazia parte de um grupo de índios isolados, da etnia awá-guajá, e teria sido queimada viva.Líderes indígenas ouvidos pelo Cimi atribuem o crime a madeireiros que atuam de maneira ilegal nas áreas destinadas aos índios. O assassinato teria ocorrido entre setembro e outubro do ano passado, na Terra Indígena Arariboia, no município de Arame, a 469 km de São Luís.Ainda segundo o Cimi, o corpo carbonizado foi encontrado por índios já contatados da etnia guajajara e que dividem o território com três grupos de isolados. Ele estava em um acampamento abandonado pelos awá-guajá.Três funcionários do escritório da Funai em Imperatriz do Maranhão viajaram hoje para a região. Segundo a assessoria da instituição, eles vão ouvir os guajajaras e tentar localizar os restos mortais da criança.Acusação. No relato sobre o episódio, o Cimi disse que em novembro já havia informado a Funai sobre o assassinato. A assessoria da Funai negou, porém, o comunicado. Segundo a instituição governamental, foi uma fonte não identificada que denunciou, em novembro, a ocorrência de um conflito entre madeireiros e os índios isolados.A denúncia anônima foi encaminhada à Polícia Federal, responsável pela investigação de crimes em áreas indígenas. Até agora, porém, nenhum relatório com o resultado das possíveis investigações teria sido encaminhado à direção da Funai.Hoje, logo após o Cimi divulgar o caso pela internet, com declarações de lideranças indígenas, a Funai anunciou o envio de três funcionários para a região.Clovis Tenetehara, um dos líderes ouvidos pelos missionários do Cimi, relatou que costumava ver os awá-guajá durante caçadas na mata. Os contatos desapareceram, porém, logo depois de ter sido localizado um acampamento com sinais de incêndio e os restos mortais de uma criança. Havia muitos madeireiros circulando pela terra indígena naquela ocasião, segundo os relatos. Acredita-se que o grupo, num total estimado de 60 indígenas, tenha se dispersado, com medo de novos ataques.Organizações dedicadas à defesa dos direitos indígenas têm chamado sistematicamente a atenção das autoridades para a ameaça de extermínio dos isolados do Maranhão. Vagando por uma área de cinco terras indígenas, eles são frequentemente vítimas de violências cometidas por madeireiros, que não respeitam os limites legalmente estabelecidos de áreas protegidas.Em outubro, o Cimi havia divulgado uma nota na qual afirmava que "os madeireiros, respaldados por influentes forças políticas, constituíram um verdadeiro poder paralelo, afrontando o Estado de Direito e ameaçando a todos que se contrapõem às suas práticas ilegais".

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