'Fui massacrado', diz Russomanno depois da derrota

Candidato se queixa de adversários, mas presidente do PRB já avalia que partido tende a apoiar Haddad

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Por Fernando Gallo e Ricardo Chapola
Atualização:

"Partidos se uniram e nos bombardearam." Visivelmente abatido, com os olhos vermelhos e falando pausadamente, Celso Russomanno lamentou a derrota e disse ter sido "massacrado" pelos seus adversários. "Quero agradecer a todos, em especial a todos os partidos que fizeram parte da nossa coligação. O problema é que a gente tinha pouco tempo de televisão... Ensinamos o Brasil como fazer uma campanha sem ataques... Vamos tocar para a frente agora."

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Russomanno disse em coletiva de imprensa no início da noite deste domingo, 7, que ainda não decidiu quem vai apoiar no 2º turno. "O 2º turno tem que estar aliado com a democracia e os princípios que nosso grupo construiu nessa campanha", afirmou. "Dentro desse princípio vamos apoiar um candidato. Vamos definir isso amanhã."

Na manhã, ao sair de casa para votar em um colégio no Morumbi, zona sul de São Paulo, Russomanno já acusava o golpe por ter caído vertiginosamente nas pesquisas depois de liderar com folga até duas semanas antes da eleição. "Foram ataques de todos os lados e todos os partidos, o que não é fácil", disse. "O problema é que a gente tinha pouco tempo de televisão. Outros partidos se uniram e nos bombardearam."

Em 25 de setembro, o Ibope lhe dava 35% das intenções de voto, ante 18% de Fernando Haddad (PT) e 17% de José Serra (PSDB). No sábado à noite, Russomanno desabara para um empate técnico com o tucano e o petista, todos com 22% na intenção de voto.

Enquanto a apuração corria, no início da noite, os próximos passos do candidato e de seu partido já eram debatidos pelas lideranças do PRB.

O presidente do partido, Aildo Rodrigues, assim que a apuração começou, acrescentou que a decisão sobre a composição para o 2º turno contará com a participação dos três presidentes do partido de Russomanno: Rodrigues, o presidente nacional da sigla, Marcos Pereira, e o dirigente estadual, Vinícius Carvalho - todos ligados à Igreja Universal do Reino de Deus.

Demora

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A queixa de Russomanno contra "ataques de todos os lados" reflete a perplexidade que tomou conta de sua equipe na reta final. Russomanno começou surfando no desconhecimento de Haddad e na alta rejeição a Serra. Disparou na frente beneficiado pela demora dos rivais em atacá-lo - os dois apostavam que ele desinflaria na reta final. O primeiro tiro que o fez desinflar foi disparado em um tema caro à periferia: o transporte.

A campanha de Haddad começou a veicular uma propaganda em que pinçava do programa de Russomanno a proposta de cobrar a tarifa do ônibus proporcionalmente à distância percorrida. Com isso, dizia o PT, a população da periferia pagaria mais pelo transporte público do que a do centro expandido.

Russomanno passou a ser questionado na TV, no rádio e nas ruas, e defendeu-se afirmando que não aumentaria o valor da passagem e a proposta não invalidava o Bilhete Único. Mas o tema pegou. Com os ataques ao projeto, vieram as críticas ao seu programa de governo: ele não teria um diagnóstico preciso dos problemas nem propostas objetivas.

O Estado revelou, então, que o coordenador de seu programa era um laranja: um funcionário de baixo escalão da Prefeitura, que apenas compilava propostas e executava tarefas burocráticas.

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Além disso, Russomanno passou a ser vinculado à Igreja Universal do Reino de Deus. Vieram à tona as informações que os principais dirigentes de seu partido eram pastores ou bispos licenciados e o principal templo da igreja em São Paulo funcionava como comitê informal da campanha.

Na quarta-feira, o líder máximo da Universal, bispo Edir Macedo, publicou em seu blog um texto apócrifo com ataques a Haddad e em defesa de Russomanno. Na semana passada, Russomanno falou em mensalão.

Mas, com pouco tempo no rádio e TV, tinha menos chance de alcançar o eleitor. Seu partido tinha pouca estrutura. Com isso, naufragou o candidato inesperado da eleição, cujo desempenho surpreendeu até mesmo seus aliados . Romper a polarização PT-PSDB fica para outra vez. 

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