Fracassa primeiro teste de vacina contra aids

Por Agencia Estado
Atualização:

O primeiro teste em grande escala de uma vacina experimental contra a aids decepcionou. A vacina foi eficaz em apenas 3,8% das pessoas submetidas. No entanto, entre negros e asiáticos, o resultado foi surpreendente, com um índice de eficácia de 67%, segundo comunicado da empresa americana Vaxgen, fabricante da vacina. As análises foram feitas em 5.417 pessoas de quatro países - Estados Unidos, Holanda, Canadá e Porto Rico -, durante três anos. Dos 319 negros que participaram do estudo, em 78% houve uma redução das infecções do HIV. O criador da vacina denominada Aidsvax, Phillip Berman, fundador da Vaxgen, mostrou-se surpreso com os resultados e se disse incapaz de explicar por que alguns grupos têm uma melhor resposta imunológica. "Não sabemos a razão. Existem muitos fatores que poderiam contribuir, como idade, educação, geografia. Precisamos investigar cada uma dessas possibilidades", disse. "No entanto, esta é a primeira vez que cifras específicas indicam que uma vacina impediu o contágio do HIV em humanos." A Aidsvax foi concebida para impulsionar o sistema imunológico a fabricar anticorpos que devem, em princípio, engajar-se a uma proteína presente na superfície do vírus, para impedir o cerco da célula. O teste foi o mais importante já executado desde o começo da epidemia mundial, apesar da baixa taxa de eficácia no total de participantes. O anúncio dos resultados do estudo provocou a queda das ações da Vaxgen nas bolsas de valores. Os especialistas crêem que uma vacina seja a maneira mais provável de reduzir a epidemia de aids no mundo, que já causou a morte de 20 milhões de pessoas e 40 milhões de contágios. Várias outras vacinas continuam em desenvolvimento. Mesmo assim, "esses resultados mostram que uma vacina poderá funcionar", disse o médico Peter Piot, diretor-executivo da Unaids, agência da ONU sobre a aids. "É necessário investigar mais para determinar por que a vacina experimental só produz efeito com certos grupos da população." A agência americana para alimentos e medicamentos (FDA) disse que a Vaxgen poderia estudar a aprovação da vacina mesmo que fosse efetiva em 30% dos casos, mostrando a urgência em se encontrarem armas contra a aids. As vacinas aprovadas, em sua maioria, costumam ser eficazes em mais de 80% dos casos. Simon Wright, da ONG britânica ActionAid, disse que "o fracasso do teste mostra que não há possibilidade de se criar uma vacina disponível para a proteção contra o HIV em um futuro próximo". Para o presidente da Terence Higgins, entidade que luta contra a aids na Inglaterra, o estudo revela que as antigas medidas de prevenção seguem sendo a melhor maneira de evitar a doença.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.