Fórum Social dá palanque para 2010

Lula levará Dilma a tiracolo, disposto a reconquistar movimentos sociais

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Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa e BRASÍLIA
Atualização:

Disposto a apresentar sua candidata à sucessão de 2010 para a maior plateia de esquerda reunida por metro quadrado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva levará a tiracolo ao Fórum Social Mundial, em Belém, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Na tentativa de consolidar a reaproximação com os movimentos sociais, ele prepara discurso sob medida para o encontro, de 27 deste mês a 1º de fevereiro, batizado de "Woodstock tropical". Lula usará a tribuna do Fórum Social para fazer um pronunciamento na linha desenvolvimentista que agrada ao PT e segue o roteiro da estreia de Dilma no megapalanque político: com estocadas nos EUA pré-Barack Obama, Lula vai dizer que, em seu governo, os pobres não pagarão a conta da crise internacional. O tom duro do discurso de Lula, que chegará a Belém na quinta-feira à noite, será reforçado por ataques à especulação financeira e defesa contundente de uma nova ordem econômica e política no mundo. Empenhado em reconquistar o público de esquerda que torce o nariz para alianças pragmáticas com o PMDB e olha com desconfiança para o Banco Central, Lula vai usar o palco de Belém para criticar os ricos reunidos no Fórum Econômico Mundial, em Davos. Detalhe: desta vez ele não comparecerá ao encontro dos homens engravatados do Primeiro Mundo, que começa no dia 28 em Davos, na Suíça. Na capital do Pará, o governo vai pôr o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na vitrine, para empurrar a candidatura de Dilma. Gerente do PAC, a chefe da Casa Civil ganhará elogios de Lula. No Planalto, a aparição de Dilma no Fórum Social é considerada extremamente importante para a conquista de votos na seara da esquerda. Lula dará alfinetadas nos Estados Unidos e nas economias mais ricas do planeta, sob o argumento de que as nações poderosas incentivaram a formação de um "cassino" global, causando a crise e prejudicando os mais pobres. Em janeiro de 2005, na última vez em que compareceu ao Fórum Social - então realizado em Porto Alegre -, Lula foi vaiado e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, aplaudido. A reação contra o petista partiu de militantes do PSOL e só não foi maior porque dirigentes do PT, alertados para o protesto, organizaram o contra-ataque. Vestidos com camisetas que exibiam a inscrição "Sou Lula", os petistas puxaram aplausos e conseguiram abafar as vaias e os gritos de "traidor", entoados pelos mais radicais. Desde então, o presidente não mais prestigiou outras edições do Fórum Social, todas ocorridas fora do Brasil. Na época, Lula ficou extremamente irritado com a manifestação, mas, diplomático, amenizou o mal-estar. "Aplauso e vaia são a mesma coisa: um se faz com a mão, outro com a boca", disse ele, na ocasião. Sob o slogan "Um outro mundo é possível", o fórum, que nasceu em Porto Alegre, em 2001, enfrentou divergências entre integrantes do comitê organizador, teve edições esvaziadas ao longo dos anos, mas promete retomar o vigor na Amazônia. Sua Carta de Princípios afirma que o objetivo é contrapor-se ao "processo de globalização comandado pelas grandes corporações multinacionais e pelos governos e instituições internacionais a serviço de seus interesses, com a cumplicidade de governos nacionais". A crise tende a aguçar os protestos da esquerda, mas Lula aproveitará o momento para apresentar as "realizações" de seu governo, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Bolsa-Família, defender mais investimentos sociais e reiterar que a turbulência global escancarou a falência do atual modelo econômico. É tudo o que a plateia do Fórum Social Mundial sempre quis ouvir.

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