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Fórum Social conseguiu espaço institucional para discutir

Por Agencia Estado
Atualização:

Neste quarto e último dia do Fórum Social Mundial, já que amanhã haverá apenas o encerramento, os coordenadores do evento festejam. Na tarde de ontem, durante uma teleconferência que confrontou integrantes desse fórum com o Econômico Mundial, em Davos, o megainvestidor George Soros admitiu discutir a taxa Tobin que tributaria as operações financeiras no mercado internacional, embora veja ?dificuldades técnicas? nela. Para a coordenação do Fórum Social, apenas a realização do debate, que não foi uma iniciativa dela, mas de uma produtora de TV francesa, já teria sido um sucesso. Afinal, na sua primeira edição, o evento conseguiu se colocar como voz dissonante e representativa a Davos, que se reúne há 31 anos, nos alpes suiços. O desconforto dos representantes de Davos, movido por críticas pesadas e também insultos, e a declaração de Soros foi uma vitória inimaginável. O constrangimento dos dois representantes da Organização das Nações Unidas (ONU), sentados ao lado de Soros e de outro empresário, ao explicarem porque preferiram ir a Davos em vez de Porto Alegre será explorado pelos movimentos sociais. Até a teleconferência, as críticas ao neoliberalismo e à globalização tinham, quando muito, sido alimentadas pelo desaquecimento da economia dos Estados Unidos que economistas presentes ao fórum vêem como um indicativo irrefutável da crise final do capitalismo. O fracasso da reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Seatle, no ano passado, e a tentativa de antecipar a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) também deram força às discussões. De concreto, os ativistas aproveitaram a reunião para convocar um novo megaprotesto. Desta vez em Quebec, quando os chefes de Estado estarão reunidos, em abril, para discutirem a Alca. ?Nasceu a sociedade civil global?, comemorou um dos idealizadores e organizadores do Fórum, Oded Grajew, do Instituto Ethos, sobre a troca de reflexões, análises e de experiências ocorrida ao longo do evento. Nos seminários que reuniam as vedetes, o público mais ouvia, diferente do ocorrido nas 400 oficinas realizadas na parte da tarde, onde tinha de tudo um pouco: das minorias de índios, mulheres, homossexuais até debates sobre os guerrilheiros zapatistas, passando por grupos interessados na gestão durável da água e nos afrodescendentes. A Alca, a OMC e o Mercosul estão na lista, evidenciando a preocupação com temas político-econômicos. Apesar da pluralidade, o PT mobilizou politicamente sozinho o encontro. Tanto que aproveitou a presença de seus militantes para festejar o aniversário de 21 anos do partido, em uma churrascaria. O presidente de honra do partido, Luís Inácio Lula da Silva, fez dois discursos no fórum, sendo aclamado em ambos, embora tenha declarado claramente que não é contra à globalização. Além de Lula, apenas o governador gaúcho, Olívio Dutra, usando bombachas, rivalizou em popularidade. É bem verdade que o número de estrangeiros era reduzido se comparado aos milhares de petistas presentes. O governador Anthony Garotinho (PSB), e os senadores do PMDB Pedro Simon e Amir Lando, circularam no fórum. Correntes Entre as milhares de pessoas reunidas no Fórum Social, estão as mais variadas correntes, grupos e pensamentos políticos de chamada esquerda latino-americana que, ao menos publicamente, não brigaram uma única vez. Até as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (Farcs) mandaram representante, constrangendo a coordenação. O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) queria aproveitar o evento para fazer um ato radical na frente de bancos estrangeiros, mas teve de se conter, porque os organizadores do Fórum vetaram a idéia. O MST, então, invadiu uma fazenda da Monsanto e destruiu soja transgênica. Em meio a centenas de antigos militantes de esquerda, havia milhares de estudantes que, vistos no conjunto, parecem terem saltado dos anos 70 para o presente. Boinas de guerrilheiro, roupas indianas, camisetas com a estampa de Che Guevara, além de palavras de ordem contra o que chamam de imperialismo norte-americano. Eles formam o grosso das multidões. De olho neles, o governo gaúcho distribuiu 10 mil preservativos durante o fórum. O presidente da Central dos Trabalhadores da Argentina, Victor de Gennaro, disse que a reunião de pessoas e grupos tão heterogêneos é uma ?felicidade? que deve ser comemorada. Segundo ele, é uma esperança de que os movimentos sociais e políticos superem a crise dos últimos anos e voltem a ser representativos. O candidato derrotado à presidência do México Cuauhtémoc Cárdenas explicou que a presença de milhares de pessoas em Porto Alegre, até antigos desafetos, podia ser compreendida pelo entendimento consensual de que são necessárias alternativas ao atual modelo político-econômico. ?O sucesso desse fórum já é a derrota do pensamento único?, afirmou o economista Luciano Coutinho. ?É possível uma alternativa.? A coordenação do Fórum, ciente dos diversos interesses e da heterogeneidade que estariam reunidos pela primeira vez, descartou qualquer tentativa de elaborar um documento final. Até onde é possível afirmar, o único ponto comum de todos é a esperança de que um mundo melhor se torne realidade. ?Seria besteira impor uma metodologia par ter um documento final?, disse João Pedro Stédile, líder do MST. ?Ao se caminhar, vai se construindo alternativas?, opinou o presidente nacional do PT, deputado federal José Dirceu, ponderando que nem os organismos internacionais têm saídas para os problemas criados pela globalização, como o aumento da miséria e do desemprego ou os problemas ecológicos.

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