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Fórum Social começa sem contraponto de idéias

Por Agencia Estado
Atualização:

No primeiro dia de seminários do segundo Fórum Social Mundial, que pretende ser mais "propositivo" que o do ano passado, o que se viu novamente foi a ausência de debates. Na maioria dos programas, predomina um uníssono: sobre os mais diversos assuntos, ouvem-se basicamente as mesmas idéias. Como existiu uma avaliação dos organizadores de que o fórum de 2001 terminou ofuscado por seu caráter "midiático" - era o primeiro fórum, houve teleconferência com seu antípoda Davos, José Bové invadiu plantação de transgênicos, etc. - tentou-se convertê-lo, em 2002, num fórum com mais discussões e propostas. Mas, na dúvida entre ser um evento e ser um congresso, o fórum deste ano começou previsível. Além de contar com poucas personalidades políticas, além das do PT e de socialistas franceses, ele não trouxe muitos intelectuais de renome nem estrangeiros - daí Noam Chosmky ter sido convertido em estrela solitária - nem brasileiros. E os políticos do PT estão, naturalmente, preocupados em fazer campanha eleitoral. Então o resultado é a coincidência de opiniões, mesmo que o fórum deste ano tenha o dobro de custos e de convidados, e se dispersado por vários pontos da cidade. O seminário sobre a Alca, realizado nesta tarde no auditório da Assembléia Legislativa, é um dos exemplos. Teve na mesa o candidato a deputado federal José Dirceu, o vice-governador do RS, Miguel Rossetto, o sociólogo Emir Sader, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães e também Luiz Inácio Lula da Silva, que não falou e que se retirou na metade. A concordância sobre a questão da Área de Livre comércio das Américas foi total. José Dirceu disse que se trata de um "programa de anexação da América Latina por parte dos EUA"; Rossetto qualificou-o de "entrega da soberania"; Sader falou em "consolidação da hegemonia militar americana"; e Guimarães definiu-a como "projeto de colonização". Não foi apenas sobre a Alca que os palestrantes concordaram. A questão da segurança, que reaparece a todo instante no fórum, também recebeu a mesma leitura. Para eles, a violência é um produto da desumanização da sociedade, gerada pela primazia dada pelo neoliberalismo ao mercado. Logo, a causa - senão imediata, mediata - do assassinato dos prefeitos do PT, Antonio da Costa Santos e Celso Daniel, é a globalização. "A burguesia brasileira", afirmou Sader, "quer eliminar os que defendem o povo, quer intimidar a esquerda e os pobres, dentro da lógica de militarização do mundo que é crescente desde o 11 de setembro. Lula, para eles, significa instabilidade. Mas são eles que, como diz Chosmky, fabricam o medo." Ontem à noite, na festa de abertura do fórum, o governador gaúcho, Olívio Dutra, disse a mesma coisa: a falta de segurança é conseqüência da globalização. A avaliação da crise argentina também é a mesma nas mais diversas conferências e oficinas: ninguém discorda de que ela foi diretamente provocada pela "política imposta pelo FMI" ao país. Tanto para os políticos como para os intelectuais que participam do fórum, a internacionalização da economia nada mais é que uma forma de imperialismo maquiada. Houve também uma série de propostas comuns nos seminários realizados de manhã, dentro do eixo temático "A produção de riquezas e a reprodução social". Foram propostos, em termos genéricos, o controle dos fluxos financeiros, a substituição de importações, a interrupção da abertura das economias a multinacionais, o perdão da dívida externa e a ajuda a países pobres como os africanos. Na realidade, são as mesmas propostas do ano passado - e, até mais do que no ano passado, sem nenhum contraponto de idéias entre os palestrantes.

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