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Forças Armadas cobram R$ 15 bi de novo ministro

Além da crise aérea, Jobim herda contencioso que vem se acumulando desde a saída de Viegas, no fim de 2004

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O novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, tem para resolver, a curto prazo, pendências acumuladas desde novembro de 2004, quando o embaixador José Viegas Filho deixou o ministério. Nada a ver com a crise do setor aéreo. Jobim terá de prover recursos para programas prioritários dos comandos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica - no total, vai encarar contencioso financeiro acumulado que chega a R$ 15 bilhões, segundo fontes do governo. Nesse montante, afirmam os técnicos, está incluído o orçamento fortemente contingenciado deste ano, verbas suplementares não liberadas e as designadas para projetos específicos. Um desses empreendimentos envolve a transferência completa da 2ª Brigada de Infantaria de Selva. A unidade está instalada em Niterói (RJ) e deve ser levada para Rio Negro, na Amazônia. O custo de toda a operação, abrangendo edifícios e infra-estrutura, é de R$ 150 milhões. A Força Aérea espera que os provimentos, da ordem de US$ 2 bilhões, para o programa de revitalização da frota de combate não sejam mais interrompidos, como aconteceu nos dois últimos anos. A prioridade, no caso, é para a transformação de 56 velhos caças F-5E em modernos F-5M (veja o gráfico) convertidos na Embraer. Na Marinha, a preocupação está na continuidade de execução do contrato, no valor de R$ 1,1 bilhão, para compra e construção no Arsenal do Rio de Janeiro de um submarino convencional IKL-214, alemão. A mesma negociação vai promover a atualização tecnológica dos cinco outros navios do mesmo tipo - quatro da série Tupi, e um da classe Tikuna - até 2014. Um consórcio internacional liderado pelo banco ABN-Amro vai responder por R$ 882,4 milhões. Ao governo brasileiro caberá arcar com os R$ 135,9 milhões restantes. O Exército coloca no alto das suas listas o desenvolvimento e fabricação da família de blindados anfíbios sobre rodas Urutu-3. A Força receberá US$ 1 bilhão por ano até 2013 para seu programa de reequipamento. O modelo anterior, produzido há 20 anos pela extinta Engesa, está em pleno uso pelos 1.200 soldados da força de paz da ONU no Haiti, chefiada pela tropa do Brasil. Ainda cuidadosos com a chegada ao Ministério da Defesa de um político experimentado, advogado e ex-juiz, conhecido pelo gênio forte e estilo agressivo, oficiais dos escalões superiores das três Forças preferiram não assumir comentários. O clima é de expectativa positiva, admitiu um general. Ele justificou a cautela recorrendo ao agitado histórico da ação dos três titulares que a pasta já teve desde o início do governo Lula. O diplomata Viegas, na visão do general, embora fosse um especialista em assuntos da Defesa, reagiu mal a um episódio menor - a nota do ex-comandante do Exército general Francisco Albuquerque elogiosa ao golpe de 64, que na opinião do ex-ministro implicaria a demissão do militar. Quem saiu foi Viegas. Seu sucessor, o vice-presidente José Alencar, jamais escondeu a condição de interino e o desgosto com o setor. Limitou-se em sua gestão a intermediar despachos diretos e rápidos do presidente Lula com os chefes das Forças. Fazia reuniões políticas no gabinete, lembra uma ex-assessora, onde servia café fraco com pão de queijo aos amigos de Minas e, com recebia o deputado Valdemar Costa Neto, então presidente do PL, partido ao qual Alencar estava filiado. Em abril de 2006, Waldir Pires assumiu o cargo. Uma administração marcada pelo imobilismo e a hesitação que não resistiu à situação crítica do transporte aéreo civil, agravada pelo choque entre o Boeing da Gol e o Legacy, ao qual se seguiria, 10 meses mais tarde, o acidente do Airbus da TAM, na semana passada, no Aeroporto de Congonhas. Nos dois episódios, o saldo trágico chega a 353 mortos.

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