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Fora da agenda, Bolsonaro se convida para ir à PGR encontrar Augusto Aras

Presidente acompanhava posse de um subprocurador via videoconferência quando, ao fim da cerimônia, diz que queria ir pessoalmente à sede da PGR, encontrando-se também com o procurador-geral Augusto Aras, responsável por investigá-lo

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Por Marlla Sabino
Atualização:

BRASÍLIA - Alvo de um inquérito que apura suspeita de interferência na Polícia Federal, o presidente Jair Bolsonaro fez uma visita inesperada na manhã desta segunda-feira, 25, à Procuradoria-Geral da República.  Caberá ao chefe do órgão, Augusto Aras, decidir se apresenta denúncia contra o presidente ao Supremo Tribunal Federal (STF). O encontro dos dois ocorreu logo após a posse do subprocurador Carlos Alberto Vilhena no cargo de Procurador Federal dos Direitos do Cidadão.

O PGR Augusto Aras e o presidente Jair Bolsonaro Foto: Leonardo Prado/PGR

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Bolsonaro acompanhava a solenidade do Palácio do Planalto, via videoconferência. Ao fim da cerimônia, o procurador-geral Augusto Aras o questionou se gostaria de falar algo. O presidente, então, "se convida" para ir pessoalmente à sede da PGR "apertar a mão" do novo subprocurador. 

"Se me permite a ousadia, se me convidar, eu vou agora aí apertar a mão do nosso novo colegiado maravilhoso da Procuradoria-Geral da República", disse Bolsonaro. Aras concorda de imediato. "Estaremos esperando Vossa Excelência com a alegria de sempre." Ao chegar ao local, Bolsonaro tirou fotos e cumprimentou os presentes, incluindo Aras. A visita durou cerca de 15 minutos.

Caos

Pouco antes de Bolsonaro anunciar a visita, Aras discursou na solenidade em defesa da independência do Ministério Público Federal, mas em "hamonia" com os outros poderes para se evitar o "caos". "Independência, mas acima de tudo harmonia, para que a independência não se transforme no caos. Porque é a harmonia que mantém o tecido social forte, unido, em torno dos valores supremos da nação", afirmou o PGR. O discurso de defesa da "harmonia" e "respeito" entre os Poderes também tem sido adotado por integrantes do governo ao criticar decisões recentes do Supremo que afetam o Executivo.

O inquérito sob os cuidados da PGR apura as acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro de que o presidente interferiu indevidamente na PF para proteger aliados. Na sexta-feira, 22,  imagens da reunião ministerial ocorrida em 23 de abril mostra o presidente cobrando mudanças no comando da "segurança no Rio" que, segundo o ex-ministro, comprovam a tentativa de interferência. 

Na versão do Palácio do Planalto, porém, o presidente falava da segurança de sua família, que é atribuição do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), chefiado pelo general Augusto Heleno. As imagens, porém, mostram Bolsonaro olhando para Moro durante as cobranças. 

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Reportagem do Jornal Nacional, veiculada na semana passada, mostrou que o presidente fez alterações – e até promoveu servidores – em sua segurança pessoal semanas antes da reunião sem dificuldade.

Aras foi escolhido por Bolsonaro para comandar a PGR no ano passado sem passar pelo crivo da categoria. Uma lista tríplice eleita pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) chegou a ser apresentada ao presidente, que a ignorou, indicando para o cargo um nome fora da relação. 

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