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Foi a maior ''expropriação'' cometida pela guerrilha

Na época, a VAR-Palmares considerou o roubo do cofre de Adhemar como sua redenção financeira

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Por Redação
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Também conhecido como "ação grande", o roubo do cofre de Adhemar de Barros foi a maior das "expropriações" cometidas pela guerrilha brasileira. Com um saldo de aproximadamente US$ 2,4 milhões - há versões que falam em até US$ 2,8 milhões -, foi vista na época pela organização guerrilheira Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), que a realizou, como sua redenção financeira. Mas acelerou o racha que levou à recriação da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), avalia Maria do Carmo Brito, uma das dirigentes da VAR-P na época e que seguiu para a VPR. "Se você já tem a base, que é a infraestrutura material, tem tempo de pensar nas divergências", explica Maria do Carmo. "Mas essa impressão é absolutamente pessoal." A VAR-Palmares surgira no meio de 1969, da fusão da primeira VPR com o Comando de Libertação Nacional (Colina), pequeno grupo baseado em Minas Gerais, integrado, entre outros, por Maria do Carmo e o marido, Juares Guimarães de Brito. A VAR-P era uma organização aparentemente forte. RACHA Em setembro de 1969, porém, em um congresso, rachou. A maioria dos delegados se alinhou com o grupo que defendia uma posição mais política, crítica ao "militarismo". Sete dissidentes, entre eles Maria do Carmo e Juares, sustentaram prioridade para a guerrilha imediata. Saíram e recriaram a VPR. Com o racha, a parte do dinheiro do cofre que não fora entregue ao embaixador da Argélia, Hafid Keramane, acabou dividida entre as duas organizações. Até 1971, a folga financeira deixou a VAR-P longe das ações de expropriação. Mas o dinheiro acabou, porque, segundo Maria do Carmo, manter a estrutura era muito caro. AÇÃO Governador de São Paulo, Adhemar de Barros morreu em 12 de março de 1969. Segundo o então secundarista Gustavo Schiller contara a Juares, sua tia, Ana Capriglione, que fora amante do político, havia herdado de Adhemar US$ 25 milhões, supostamente fruto de corrupção, guardados em dez cofres, distribuídos em diferentes lugares. O comando da VAR-P discutiu a ação e resolveu atacar o cofre da casa de Ana, na Rua Bernardino dos Santos, nº 2, em Santa Teresa, no Rio. Um levantamento prévio foi feito, com ajuda do hoje ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que se passou por pesquisador. No dia 18 de julho de 1969, seguindo o planejamento de Juares e dizendo-se policiais, os ativistas invadiram o local. Usaram pranchas para fazer o cofre deslizar até a garagem, colocaram-no em uma caminhonete e o levaram para um "aparelho" (local clandestino da organização), onde o encheram de água e abriram a maçarico. Foi quando constaram que, pelo menos naquele caso, a informação era verdade. Como o dinheiro era clandestino, Ana Capriglione não deu queixa do roubo e, chamada a depor, negou a existência do cofre. Mas a repressão já procurava Maria do Carmo e Juares. Em 18 de abril de 1970, montou uma armadilha em um "ponto alternativo" marcado na zona sul carioca com um militante que "caíra" e o revelara a agentes do governo. PACTO Juares dirigia o carro, enquanto Maria do Carmo disparava contra os agentes. Havia um pacto. Em caso de cerco impossível de ser rompido, ela o mataria e se mataria em seguida, ou vice-versa. Quando o carro foi bloqueado, Juares arrancou a arma da mão da mulher e disparou contra o próprio ouvido direito. Maria do Carmo foi presa e levada para São Paulo, onde foi torturada para revelar o destino do dinheiro. Ironicamente, parte dos dólares do cofre de Adhemar foi entregue - inadvertidamente - pela VPR à repressão, segundo Maria do Carmo. Ela conta que, no Chile, o ex-sargento Onofre Pinto, que ficara com o controle da conta, repassou dinheiro ao ex-marinheiro José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo, acusado de, como agente duplo, ter delatado muitos "companheiros".

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