Fogo consome 300 anos de história em Pirenópolis

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Por Agencia Estado
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Trezentos anos de história viraram cinzas em menos de dez horas com o incêndio que destruiu ontem a igreja matriz de Nossa Senhora do Rosário, a mais antiga de Goiás, construída em 1.728 em Pirenópolis (GO) e tombada como patrimônio histórico nacional em 1941. Todo o interior da igreja, inclusive castiçais de prata, porcelanas francesas do século XVII e afrescos no teto, foram destruídos. A imagem de Nossa Senhora do Rosário, padroeiera da cidade e outras 12 imagens de santos e 14 quadros da Via Sacra foram os únicos objetos salvos a tempo. Só sobraram paredes externas de taipa, que correm risco de desmoronar. Os peritos ainda iniciavam o trabalho de investigação da causa do incêndio, quando o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Carlos Henrique Heck, se apressou a informar que, há um ano, cópias de um laudo técnico de vistoria foram enviadas ao Ministério Público Federal, a Diocese de Anápolis e o páraco responsável pela igreja, Luiz Virtuoso, alertando para o risco de acidentes. O arquiteto do Iphan, Silvio Cavalcanti, revelou que em setembro de 2001 constatou a existência de instalações elétricas mal feitas para instalação do som, velas acesas e uso inadequado de cera no piso, bastante inflamável. ?Desconheço o alerta?, defendeu-se o padre Virtuoso, que não descarta a possibilidade de sabotagem. Admitiu, no entanto, usar uma régua de tomadas para ligar a mesa do som, um amplificador e um eqüalizador. A população de Pirenópolis estava de luto. ?Perdemos a mãe de Pirenópolis?, disse aos prantos a violionista Ita Lopes Siqueira, de 70 anos, que desde os 12 anos tocava na igreja. ?Nunca mais será a mesma coisa?, repetia Terezinha de Sá, 65 anos, que casou na igreja e batizou filhos, netos e bisnetos, inconsolável. Até o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, que participou em 1999 da reinauguração da igreja após restauração que consumiu US$ 1 milhão, lamentou o incêndio. Em nota à imprensa, ele garantiu total empenho para ?devolver à população de Pirenópolis e de Goiás uma das mais importantes obras arquitetônicas do barroco do Centro-Oeste?. Fogo O fogo começou por volta das 2 horas da madrugada. O miado de um gato levou o pároco da igreja, Luis Virtuoso, à janela da casa paroquial. Assim percebeu o incêndio. Inicialmente, o padre tentou apagar o fogo com os quatro extintores existentes na igreja. Sem sucesso. Chamou os bombeiros da cidade, mas, sem carro-pipa, os 20 soldados tampouco conseguiram controlar o fogo. Bombeiros de Anápolis, que só chegaram por volta das 6 horas e com cinco carros pipas ajudaram a controlar o incêndio. No final da tarde, os portais de aroeira ainda apresentam sinais de fumaça e brasa. O Iphan decidiu instalar tapumes ao redor da igreja e o escorar as paredes feitas de barro. O padre conta que havia estado na igreja até 22 horas, numa reunião com cinco casais. Antes de sair, teve o cuidado redobrado de verificar pessoalmente se estava tudo desligado, porque avistou um foco de fogo no Morro do Frota, distante cerca de mil metros da igreja. ?A igreja era a alma da cidade?, afirmou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Sergio Amaral, que tem casa na cidade há mais de 20 anos e nesse período vem se dedicando a projetos e programas na cidade. Todas as festas religiosas e culturais começavam e terminavam na praça da igreja que restaurada com recursos da Telebrás, captados por Amaral e o falecido ministro das Comunicações, Sérgio Motta. Amaral foi pessoalmente com o governador de Goiás Marconi Perillo (PMDB) a Pirenópolis para verificar o estrago. Amaral disse que a Petrobrás e o BNDES já se comprometeram a ajudar na reconstrução da igreja. As duas empresas mantêm verbas de patrocínio para a preservação e conservação do patrimônio histórico. Amaral anunciou que vai tentar, também, o apoio de empresas privadas e de outras empresas estatais.

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