'Fogo amigo' ajuda a fragilizar ministro

Intrigas e disputas dentro do PT, por ambições eleitorais e perda de poder, agravam a crise e aumentam pressão por nova articulação política

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Por Eugênia Lopes , Denise Madueño e BRASÍLIA
Atualização:

De perfil tranquilo, porém soturno, como apontam os próprios petistas, o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, não promove o enfrentamento político interno, mas se mostra vulnerável ao "fogo amigo". É dentro do próprio PT que estão os maiores desafetos de Palocci, situação que pode, na atual crise política, ajudar a empurrar o ministro para fora do cargo exatamente quando o Planalto avalia a repercussão das explicações fornecidas por ele na última sexta-feira.

 

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Nestes cinco primeiros meses do governo de Dilma Rousseff, ele desagradou parte da bancada petista na Câmara, que até hoje não conseguiu emplacar seus 104 indicados para cargos de segundo escalão. Com alguns, Palocci bateu de frente. Foi o caso do ex-presidente do PT e deputado Ricardo Berzoini (SP), que perdeu posições no Banco do Brasil e na Previ – o fundo de pensão dos funcionários do banco.

 

Palocci é considerado eterno adversário de parlamentares paulistas que alimentam a esperança de virarem candidatos do PT ao governo de São Paulo. Até a recente crise política da qual ele é protagonista, por conta de sua evolução patrimonial, o nome do ministro era sempre lembrado para o cargo. Na lista de alguns petistas, Palocci é, inclusive, potencial candidato à Presidência em 2018.

 

A exposição o coloca em confronto com outro peso-pesado petista, que vê Palocci como uma ameaça a pretensões eleitorais: o ex-ministro José Dirceu. Colegas de ministério no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, ambos disputavam a preferência do chefe na corrida pela sucessão presidencial. Os dois foram abatidos por se envolverem em escândalos, criando um vácuo ocupado por Dilma.

 

Imposto por Lula à então candidata à Presidência, Palocci conquistou ao poucos o lugar do "homem forte" da campanha de Dilma. Substituiu o hoje ministro Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, amigo fiel e o preferido de Dilma.

 

Apesar dos esforços de José Dirceu para deixá-lo de fora do "núcleo duro" do governo Dilma, Palocci conseguiu se transformar no principal auxiliar da presidente.

 

Boa parte da bancada federal do PT também não morre de amores pelo ministro. A ala do partido que elegeu Marco Maia (RS) presidente da Câmara e Paulo Teixeira líder do partido defende uma mudança geral na coordenação política.

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Além do Palocci, os alvos são o ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais), e o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP).

 

Os grupos ligados a Maia e a Vaccarezza estão em atrito desde a disputa pela presidência da Câmara. A ala de Maia, vencedora, não se conforma com a manutenção de Vaccarezza no cargo.

 

No início da crise envolvendo Palocci, que multiplicou 20 vezes seu patrimônio no período em que era deputado (2006 a 2010), a coordenação da bancada do PT cogitou redigir uma nota de apoio ao ministro, mas a ideia não vingou. A justificativa apresentada foi a de que um documento de apoio poderia dar a sensação de fragilidade do ministro.

 

As cobranças para que Palocci se explicasse, antes reservadas, passaram a ser públicas. Duas semanas depois, a Executiva do PT se negou a divulgar uma nota de apoio. "O poder é solitário", resume um dirigente do PT.

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