Fita revela pressão sobre testemunha contra Maluf

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Por Agencia Estado
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Uma fita com gravação de conversas por telefone entre o ex-caixa da Construtora Mendes Júnior, Joel Guedes Fernandes, e um suposto diretor da empreiteira revela detalhes que podem comprometer inquérito policial aberto contra o administrador Simeão Damasceno de Oliveira - autor das denúncias de suposto esquema de corrupção em contratos da Mendes Júnior com a administração Paulo Maluf (1993-1996) e com empresas públicas do Estado. A transcrição da fita foi entregue ao Ministério Público de São Paulo pelo próprio Simeão, que trabalhou na construtora durante 16 anos como coordenador financeiro-administrativo. A Mendes Júnior rebate enfaticamente as acusações e alega ser vítima de uma chantagem de Simeão. Maluf nega ter sido beneficiado pelo esquema de caixa 2 revelado por Simeão. "Vamos processar este homem", avisa o advogado do ex-prefeito Ricardo Tosto. O ex-coordenador financeiro foi indiciado no inquérito policial por extorsão, acusado de tentar pressionar a Mendes Júnior para receber um crédito a que afirma ter direito, equivalente a US$ 2,7 milhões a título de participação de resultados e lucros. Para os promotores de Justiça que investigam o caso, "o inquérito perdeu a credibilidade porque há indícios de provas montadas" contra o ex-coordenador da empreiteira. Tais provas teriam sido providenciadas para "desqualificar" Simeão. Faz parte do inquérito o depoimento do ex-caixa. "O declarante tem conhecimento de que o sr. Simeão foi demitido da Mendes Júnior; que o sr. Simeão e seu advogado estão exigindo da empresa o valor de mais de R$ 6 milhões, não sabendo precisar a causa de dita quantia; o declarante desconhece os motivos que levaram o sr. Simeão e seu advogado a exigirem aquela elevada quantia." O relato de Joel teria sido redigido na própria empresa para "caracterizar" a suposta extorsão. A assessoria da presidência da Mendes Júnior também refuta a acusação de participação em depoimento forjado. A empreiteira desmente que o seu superintendente de obras tenha procurado Joel. O advogado da Mendes Júnior, Manoel Giácomo Bifulco, desabafou: "Isso é uma irresponsabilidade, não houve qualquer coisa desse tipo; jamais admitiria isso." Bifulco disse que "é muito estranho" o fato de Simeão não ter comparecido a duas audiências na Justiça do Trabalho, "foro competente para cuidar de questões trabalhistas". No dia 23 de janeiro, Joel depôs a um grupo de promotores no Fórum de Santa Rita do Sapucaí (MG) e contou sobre uma "ligações telefônicas que recebeu de Carlos Henrique Savastano Júnior, superintendente de obras da Mendes Júnior em São Paulo". Quando recebeu as ligações, Joel estava em São José do Rio Preto. Segundo os promotores, a Mendes Júnior teria pago a passagem de avião para Joel. "O Carlos Henrique disse que estava preocupado com o que poderia acontecer comigo no desenrolar do inquérito, inclusive que eu poderia ser preso; além disso, eu poderia pagar o pato pelos outros." Segundo Joel, "Carlos Henrique passou a ligar com freqüência". "Ele queria que eu fosse prestar declarações no inquérito do modo que a empresa queria, e me pagariam o que havia sido descontado de mim indevidamente". O ex-funcionário estava cobrando R$ 28 mil da empresa desde que foi demitido, em abril de 2001. "Para mim, o texto do termo de declarações preparado pela empresa visava claramente me incriminar e incriminar o sr. Simeão." O promotor José Carlos Blat, da força-tarefa criada para investigar as denúncias de Simeão, destacou trechos da gravação: "Joel, venha, acaba logo com isso. Sabe por que eu tô preocupado? Preocupado de eles não te envolverem no resto. Se começa a pipocar muita coisa, de todo jeito você pode ser chamado, não é só neste não. Esse que está em andamento, tem o outro que vai começar também. Prá que você vai se meter nisso? (Voz atribuída ao superintendente de obras Carlos Henrique Savastano Júnior). "Quem preparou aquele papel que você me mandou? (Joel) "Uai, foi o pessoal aqui. Deve ter sido o pessoal da Mendes com aquele outro lá. É prá te tirar fora. Larga de ser bobo. O único jeito que você tem de pular fora, eu já te expliquei mil vezes, é prestando o depoimento. O seu irmão analisa, vem junto com você. Se você quiser pago até o táxi. Nós estamos dizendo prá você pular fora dessa, senão você vai em cana. Larga de ser burro"(Carlos Henrique). "Pois é, Carlinhos, mas como é que eu vou fazer? Eu tô duro, rapaz. O que eu estava recebendo da Mendes já acabou em novembro" (Joel). "Eu sei, eu arredondo esse negócio, eu te dou. Falei que você estava interessado. Eles vão querer que você preste o depoimento e te acertam. Larga de ser mula. Num dia você vem e volta. Pula fora de tudo. Joel, esse negócio começa a pipocar e ainda mais é ano eleitoral. Tem que correr atrás de todo mundo que você conhece. Então, esse é um prato".

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