Fiscal do Ibama tenta se matar ao perceber que seria preso

Agentes cumpriam mandado de prisão do fiscal. Mas, por causa do incidente, Justiça revogou a prisão. A PF investiga fraudes na liberação de licenças ambientais

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Por Agencia Estado
Atualização:

Um fiscal do Ibama denunciado à Justiça sob acusação de corrupção passiva e formação de quadrilha tentou o suicídio nesta quarta-feira com um tiro no peito em sua casa, segundo a Polícia Federal (PF), após a chegada de quatro agentes que cumpriam mandado de prisão contra ele. Na operação, vinte e cinco pessoas foram presas, das quais 22 são servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Rio. O número representa um quarto do total de fiscais (88) do órgão federal no Estado. De acordo com a PF, Ivilson Pedro Muller, de 56 anos, deu um tiro no peito ao perceber que seria preso. Ele estava em casa, em Pedra de Guaratiba, na zona oeste. Os policiais o chamaram pelo nome, ele apareceu na janela, disse que desceria para abrir a porta e, em seguida, foi ouvido um estampido, relatou a PF. Os agentes entraram na casa e afirmam ter encontrado Muller estirado na cama, ao lado de um revólver calibre 38. O fiscal foi levado pelos agentes para o Hospital Pedro 2.º e não corre risco de morte. Por causa do incidente, a Justiça revogou a prisão do acusado, que continua sendo investigado. Denúncia O Ministério Público Federal denunciou 49 pessoas da quadrilha, das quais 29 tiveram prisão preventiva decretada pela 5ª Vara Federal de São João de Meriti - quatro continuavam foragidas até o fim da tarde. Os acusados já tinham sido presos preventivamente no dia 30 de agosto, quando foi desencadeada pela PF a Operação Euterpe, que investiga fraudes na liberação de licenças ambientais. Como ainda não havia denúncia, eles foram soltos após o término do prazo da prisão preventiva. Nesta quarta, 122 policiais participaram da operação. Os fiscais do Ibama são acusados de extorquir dinheiro de empresários dos ramos imobiliário, comercial e industrial, em troca da emissão de pareceres técnicos favoráveis a empreendimentos quase sempre localizados em áreas de proteção ambiental. A quadrilha também atuava recebendo propina para não impedir a pesca da sardinha no período do defeso (época de procriação da espécie). Os acusados respondem pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa (empresários) e passiva (servidores), violação de sigilo funcional, prevaricação, concussão, peculato, pesca ilegal e outros crimes ambientais. As investigações começaram em 2005, a partir de denúncia feita por um funcionário recém-concursado do Ibama. Houve quebra de sigilos bancários e conversas telefônicas foram interceptadas por mais de um ano. Os fiscais do Ibama agiam na capital, na Baixada Fluminense, na Região dos Lagos, em Itaboraí e em Angra dos Reis, onde é grande a especulação imobiliária para construção de condomínios e hotéis. Entre os presos, Sérgio Antônio Silva de Almeida, que chefiava o escritório do Ibama em Angra, e Alípio Villanova do Nascimento, que era responsável pelo de Cabo Frio. Empresários e consultores ambientais também foram denunciados por pagar propina aos servidores. Dois consultores e um comerciante de pescado de Angra foram presos ontem. Com o pagamento de propina, os empresários escapavam de multas por não possuírem licença ambiental. Em alguns casos, os servidores se apropriavam da mercadoria apreendida, como toneladas de peixes. Ameaças De acordo com a PF, acusados estavam ameaçando testemunhas do processo. "Certamente foi o que levou o juiz a decretar a prisão novamente", disse o superintendente da PF no Rio, Delci Teixeira. Há informações de que laudos falsos foram negociados por até R$ 200 mil. Um fiscal é acusado de trocar um laudo favorável à construção de um condomínio irregular por um apartamento no futuro empreendimento. Após a operação de agosto, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, anunciou que haveria remanejamento de servidores de outros Estados para recompor o quadro de fiscais no Rio, o que não ocorreu até hoje. Na ocasião, ela afirmou que os funcionários seriam exonerados e as construções irregulares, demolidas. A Operação Euterpe teve como ponto de partida a investigação do crime de extração de palmito na Reserva do Tinguá, em Nova Iguaçu, na Baixada - Euterpe é uma espécie de palmito. Foi na região da reserva que ocorreu o assassinato do ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro Filho, em 2005. "Esperamos que se faça um limpeza (no Ibama), que é o que a própria ministra já declarou", afirmou o superintendente regional da PF. Ele instaurou inquérito para apurar o caso do fiscal baleado. "A arma será periciada, fizemos exame do local e os quatro agentes e vizinhos estão sendo ouvidos. É preciso saber se havia algo que poderiam ter feito para evitar a situação."

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