
15 de novembro de 2015 | 03h05
O Brasil não é a França nem os Estados Unidos, não está na linha de frente de combate ao Estado Islâmico, mal se meteu na guerra perene do Oriente Médio e está fora do alvo até por uma questão geográfica. Mas a Olimpíada vem aí...
A Olimpíada de 2016 vai bater a Copa do Mundo de 2014 em vários quesitos. Foram cerca de mil atletas de 32 países na Copa e serão 15 mil, de 205 nações, na Olimpíada. São esperados 500 mil turistas internacionais e 25 mil profissionais de mídia. E o mais impactante, em vários sentidos: na Copa, 3,5 bilhões de espectadores estiveram de olho no Brasil; na Olimpíada, serão 4,8 bilhões.
Para estimular o turismo e particularmente a vinda de centenas e talvez milhares de viajantes norte-americanos a mais, o Brasil decidiu também suspender unilateralmente a exigência de vistos estrangeiros. É ótimo, mas pode ser péssimo. Estimula a presença, mas aumenta o risco.
Alerta máxima, portanto. Não dá para brincar quando o mundo parece de ponta-cabeça, com regiões inteiras massacradas pelo ódio religioso, as migrações em massa tornando-se a mais grave questão humanitária da atualidade e a ousadia indo ao extremo dos extremos.
Não bastasse degolar pessoas como peça de propaganda e destruir monumentos da história da Humanidade, fazer o tipo de ataque que fizeram na sexta-feira, em Paris, é o fim do mundo. Valeram-se da multiplicidade étnica da “Cidade Luz” e das migrações árabes para a França com o fim do colonialismo no Norte da África e fizeram o ataque mais cruel e mais bárbaro numa sexta-feira à noite, com a juventude entupindo restaurantes, bares e baladas, e durante um amistoso clássico na Europa, França versus Alemanha, com o presidente François Hollande presente.
Essa ação não apenas vai potencializar tristemente o racismo e a xenofobia crescente na França e no resto da Europa, como vai acender todas as luzes vermelhas no resto do mundo. Quem acaba pagando a conta, e a financeira é apenas a menor delas, somos todos nós, os cidadãos do mundo. Tome de sensores, detenções, interrogatórios. Danem-se os direitos individuais! Preparem-se todos, porque isso só tende a piorar.
O Brasil teve dois bons ensaios e passou bem no teste da Copa das Confederações e da própria Copa do Mundo de 2014, com a presidente Dilma Rousseff elogiando o núcleo de defesa cibernética do Exército brasileiro, as ações conjuntas da Polícia Federal com as polícias estaduais detectando ameaças e ameaçadores nas fronteiras. Mas a Olimpíada vai exigir muito mais.
Cresce a premência de intensificar as conexões, operações e principalmente informações entre o Brasil e seus parceiros no mundo, particularmente os Estados Unidos, os vizinhos da Unasul, a própria França e a Europa em geral.
A Olimpíada, lembremo-nos, não é um evento do Brasil, mas um evento do mundo. O Brasil precisa fazer o dever de casa e ser exemplar, mas será apenas parte na essencial questão da segurança, que hoje não é mais nacional, é global.
O problema é que os Estados Unidos têm o maior orçamento e a maior parafernália de defesa do universo, mas não detectou o 11 de Setembro, e a França vem logo em seguida, com sua famosa inteligência, seus aviões de combate, seus radares, mas foi vítima, em menos de doze meses, dos ataques do Charlie Hebdo e da sexta-feira... Se foi assim com eles, o melhor é a gente rezar para o EI ter muito mais com que se preocupar do que com uns jogos do outro lado do mundo.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.