Filho de ex-deputado nega depósito na Suíça e põe em xeque defesa de Cunha

Em depoimento à Procuradoria-Geral da República, Felipe Diniz contraria afirmação de lobista e não corrobora versão do presidente da Câmara sobre transferência de 1,3 milhão de francos suíços para uma conta atribuída ao peemedebista; para investigação, operação indica propina

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Por Carla Araujo
Atualização:
O presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB|RJ) Foto: Antonio Augusto|Agência Câmara

BRASÍLIA - O filho do ex-deputado federal Fernando Diniz, o economista Felipe Diniz, afirmou em depoimento à Procuradoria-Geral da República que não ordenou um depósito de 1,3 milhão de francos suíços em uma conta atribuída ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no banco Julius Baer, na Suíça, em 2011. A declaração do economista contraria a afirmação do lobista João Henriques – que era ligado ao PMDB e foi preso na Operação Lava Jato – e enfraquece a versão de Cunha para o depósito, que os procuradores suspeitam se tratar de propina originada do esquema de corrupção na Petrobrás.

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O lobista disse em depoimento à Polícia Federal, no fim de setembro, que não sabia quem era o beneficiário do dinheiro e que fez o depósito a mando de Felipe Diniz.

Posteriormente, Cunha afirmou que o montante foi depositado “à sua revelia” por Henriques. O presidente da Câmara disse suspeitar que o depósito referia-se ao pagamento de um empréstimo feito por ele a Fernando Diniz. O ex-deputado do PMDB morreu em 2009.

No depoimento prestado no dia 20 de outubro à Procuradoria-Geral da República, o filho de Diniz confirmou que seu pai mantinha uma relação próxima a Cunha, mas disse desconhecer a existência de qualquer empréstimo. O advogado do economista, Cleber Lopes, afirmou ao Estado que a versão apresentada por Cunha não tem credibilidade.

“Felipe nunca teve atividade político-partidária. Ele não tinha ingerência nas atividades do pai, mas essa versão não convence ninguém”, afirmou o advogado, ressaltando que não quer “julgar a estratégia de defesa de ninguém”.

Cunha, por sua vez, afirma que só soube do depósito após o depoimento do lobista e vincula a transferência a um suposto empréstimo de cerca de US$ 1 milhão a Fernando Diniz. O ex-deputado presidiu o PMDB de Minas Gerais. Segundo o presidente da Câmara, eles eram muito amigos e integravam o “núcleo duro” do PMDB na Casa em 2007, durante o primeiro ano do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

Defesa. A versão apresentada por Cunha sobre o depósito faz parte de sua defesa que está sendo preparada para as investigações no âmbito da Justiça e do Conselho de Ética da Câmara – onde é acusado de quebra de decoro parlamentar por ter dito na CPI da Petrobrás que não possuía contas no exterior (foram bloqueados cerca de R$ 9,6 milhões em duas contas). 

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O peemedebista afirma que constituiu trustes que administram ativos adquiridos entre 1985 e 1989, quando ele comercializava mercadorias no exterior, a maior parte carne enlatada para a África, sobretudo o hoje extinto Zaire. O truste consiste na entrega de um bem ou valor a uma instituição (fiduciário) para que seja administrado em favor do depositante ou de outra pessoa por ele indicada (beneficiário). Segundo Cunha, o truste Orion recebeu cinco depósitos em 2011 de João Henriques (que somaram 1,3 milhão de francos suíços), mas que não houve movimentação financeira desde então.

No depoimento à PF, Henriques afirmou, contudo, que abriu uma conta na Suíça para pagar propina ao presidente da Câmara, mas não especificou valores nem datas. Segundo ele, a transferência para Cunha está ligada a um contrato da Petrobrás relativo à compra de um campo de exploração de petróleo em Benin, na África.

Encontros. O advogado Cleber Lopes disse ontem que Felipe Diniz confirmou no seu depoimento ter mantido contato com Cunha. Admitiu que ele teve alguns encontros com o deputado, mas afirmou que seu cliente não tinha conhecimento dos negócios do pai. Segundo a defesa do presidente da Câmara, o economista esteve na manhã de ontem na residência oficial do deputado, em Brasília. Lopes confirmou também que Henriques e Felipe Diniz tiveram uma relação próxima na época em que o lobista trabalhava na BR Distribuidora. O advogado afirmou, no entanto, que desde 2013 eles não mantêm mais contato. “Viajaram juntos para a Argentina, porque ele queria ter experiência em negócios internacionais, fazer consultoria, mas daí a ter relações com negócios de Cunha na Suíça tem uma distância oceânica.”

Segundo o advogado, Diniz também disse não ter conhecimento se o ex-diretor de Internacional da Petrobrás Jorge Zelada foi uma indicação de seu pai à estatal.

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