Filha de acusado de receber propinas para Cunha é exonerada da prefeitura do Rio

Funcionária Danielle Porcari Alves trabalhava como assessora política da Casa Civil da Prefeitura fluminense e seu pai Altair Alves Pinto foi citado na delação de Fernando Baiano

Por Juliana Dal Piva
Atualização:

Rio - O secretário da Casa Civil da Prefeitura do Rio, Guilherme Schleder, exonerou na última quarta-feira, 28, a funcionária Danielle Porcari Alves. De acordo com o prefeito Eduardo Paes (PMDB), ela trabalhava como assessora política do órgão desde junho do ano passado a pedido do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Danielle é filha de Altair Alves Pinto, apontado pelo delator Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, como receptor de propinas pagas a Cunha e investigadas na operação Lava Jato. Nem o prefeito nem o secretário informaram o motivo da demissão de Danielle. Alves Pinto trabalha com Cunha desde 1999. Ele e parentes são donos de empresas que exploram pedras ornamentais no Espírito Santo. Ele e uma irmã são sócios da Indústria Aladin Mármores e Granitos, em Muqui, município na região sul capixaba. No mesmo endereço e telefone da Aladin funciona a Guarujá Granitos, que pertence a Danielle e sua mãe, Marilene Porcari Alves. Uma das principais obras onde a Guarujá trabalhou foi a reforma do estádio do Maracanã. A empresa forneceu as divisórias e cubas de todos os banheiros do estádio, além do piso da área VIP.

Eduardo Cunhadivulgou nota em que negava a acusação do doleiro. "Bastava uma simples pesquisa no portal da Câmara para ver todas as propostas que apresentei, e isso posso provar. Só que ele, o procurador, não tem como provar. Simplesmente não fiz qualquer representação e se, por ventura, outros parlamentares fizeram, por que, então, o procurador não pediu inquérito dos outros parlamentares?", escreveu o deputado em nota publicada no seu site da internet.Veja Foto: André Dusek/Estadão

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Após reportagem publicada no Estado na segunda-feira passada, o site da Guarujá entrou em manutenção e retirou as imagens do serviço no Maracanã. O Estado tentou localizar Danielle na empresa ao longo da semana, mas funcionárias disseram que ela não esteve lá nos últimos dias. Ela também apagou seus perfis em redes sociais e não retornou aos contatos da reportagem. Alves Pinto não foi localizado nas casas no Rio e em Muqui. O nome dele surgiu na investigação da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a corrupção na Petrobrás, após a delação premiada de Fernando Baiano. Segundo Baiano, o assessor recebeu entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão em dinheiro vivo em nome de Eduardo Cunha, como parte da propina total de US$ 5 milhões. A suposta propina era relativa à contratação de navio-sonda pela petroleira. Baiano disse que efetuou os pagamentos a Alves Pinto no escritório de Cunha no centro do Rio, em outubro de 2011. Danielle Porcari Alves é médica veterinária formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e concursada pela Prefeitura de Mimoso do Sul, cidade vizinha de Muqui. O processo de transferência começou em 18 de março do ano passado, quando o titular da pasta era Pedro Paulo Teixeira, atual secretário municipal de Governo e pré-candidato do PMDB à sucessão de Eduardo Paes em 2016. A nomeação de Danielle no Diário Oficial ocorreu em 23 de junho de 2014.

Paes afirmou, por meio de nota no fim de semana, que "a servidora foi requisitada pelo prefeito a pedido do deputado federal Eduardo Cunha". Danielle foi nomeada para exercer a função de assessora política, com salário de R$ 1.308,92. O secretário Pedro Paulo informou, também por nota, que a aprovação da transferência de Danielle ocorreu quando ele já não era o titular da Casa Civil.

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) não soube informar o valor pago à empresa pelo serviço. De acordo com o TCE, a Guarujá pode ter sido subcontratada pelo consórcio formado pelas empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez. O TCE informou que só existem registros diretos dos pagamentos entre o governo e o consórcio. A Guarujá e a Aladin nunca possuíram contratos diretos com o governo do Rio. Procurada, a Odebrecht, responsável, pela obra não informou os valores pagos a empresa Guarujá Granitos pelo serviço.

Quando Cunha dirigiu a Companhia Estadual de Habitação (Cehab), em 2000, durante o governo de Anthony Garotinho (1999-2002), Altair foi assistente da presidência. Cunha foi deputado estadual entre 2001 e 2003. No período, Altair esteve lotado no gabinete do deputado na Assembleia Legislativa do Estado do Rio. Depois, foi trabalhar com o deputado estadual Fábio Silva (PMDB), filho do ex-deputado Francisco Silva, dono da Rádio Melodia FM, em que Cunha tem programa semanal.

Pessoas próximas a Cunha creditam a Francisco Silva a entrada dele no mundo evangélico e o impulso para sua carreira na vida pública. Foi na rádio que Cunha criou o bordão "Afinal de contas, o nosso povo merece respeito!" O Estado procurou o deputado Fábio Silva para saber quais são as funções de Altair no gabinete. O parlamentar não retornou os contatos da reportagem.