FHC volta a criticar postura de Lula no início da crise

Por Clarissa Oliveira
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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso atacou duramente hoje a forma como o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidou com a eclosão da crise que atinge os mercados financeiros internacionais. Dizendo enxergar riscos de o País entrar em recessão, FHC ironizou as falas feitas por Lula no início da crise, de que a turbulência chegaria ao mercado brasileiro apenas como uma "marolinha". "Nós inventamos aqui uma teoria, no Brasil - nosso presidente, que é um grande economista, foi o primeiro a propagar essa teoria - que se chama decouped, quer dizer, separação. Ou seja, aqui é uma ilha. Se vier, vem marola. Marolinha", ironizou FHC, arrancando risos de uma platéia com mais de 800 tucanos, entre prefeitos e vereadores eleitos, em um encontro organizado pelo diretório estadual do PSDB. Num discurso de mais de meia hora na abertura do encontro, ele disse não ser "pessimista". Mas apontou que qualquer pessoa que conhece a história do País e tem experiência no enfrentamento de crises sabe que os próximos meses serão difíceis para o Brasil e para o mundo. "Que ninguém subestime", advertiu. O ex-presidente tucano disse que a crise atual é diferente das enfrentadas no passado, que ocorriam, segundo ele, "na periferia do sistema capitalista". "Esta crise estourou no miolo do sistema capitalista." De acordo com ele, mercados internacionais já apresentam indícios claros de recessão e agora torcem apenas para que esse quadro não se transforme em "depressão". Já o Brasil, afirmou, começou a sentir os efeitos sob duas formas. A primeira, no sistema financeiro. A segunda, nas exportações. "De fato, a crise já nos alcançou e vai continuar alcançando", disse. O ex-presidente afirmou ainda que seu partido não pode assinar um "cheque em branco", para que o governo federal atue como bem entender para aliviar a crise. Em entrevista logo após o evento, FHC acrescentou que torce para que a recessão não chegue ao País, apesar de acreditar que o risco existe. "Temos que ser realistas. Não adianta viver na ilusão. As coisas são difíceis. Vão ser difíceis. Mas temos força suficiente para superar as dificuldades", disse. "Aqui não é marola. Vai perguntar para quem está perdendo o emprego hoje, é mineiro, na Vale do Rio Doce. Não é marola. Marola é quando você não é afetado", completou. FHC disse entender que o presidente deva "animar o País", mas destacou que o Brasil "não é bobo". "O País percebe quando as coisas mudaram." Por enquanto, disse ele, o governo seguiu a tendência mundial ao liberar recursos para garantir a liquidez nos mercados. Ainda assim, ele disse avaliar que o Banco Central poderia ter se antecipado em medidas como a redução da taxa de juros. "Não adianta chorar o que passou."

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