FHC vê autoritarismo no terceiro mandato; para Serra, não vinga

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Por CARMEN MUNARI
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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso classificou como autoritária a articulação de um suposto terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Não aceitamos nenhuma alteração que leve a qualquer idéia de continuísmo. E quem diz isso apoiou a reeleição, foi candidato e se reelegeu", disse Fernando Henrique nesta quinta-feira, em discurso no Congresso Nacional do PSDB, em Brasília. O instrumento da reeleição foi aprovado em 1997 e possibilitou um novo mandato ao ex-presidente e também ao presidente Lula. Já o tema de um terceiro mandato passou a ser discutido entre deputados do PT e de partidos aliados ao governo. Fernando Henrique justificou a reeleição explicando que o mandato de presidente foi reduzido de cinco para quatro anos e, como um complemento, foi aprovado depois o segundo mandato. "Hoje temos um sistema eleitoral com regras definidas. Não há mais razão para que se discuta a questão de um enésimo mandato", criticou. Ele ressalvou que não afirma que o presidente Lula está indo por este caminho, "mas estou dizendo que existe este risco". "Espero até que o presidente Lula dê mais clareza ao que disse até agora, que diga: "Sou contra", cobrou, citando a defesa de Lula em relação aos sucessivos mandatos do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Lula já se manifestou mais de uma vez de forma contrária ao terceiro mandato e desautorizou o PT a atuar neste sentido. FHC falou ainda que uma consulta à população sobre um novo mandato poderá ser manipulada. Um plebiscito sobre a continuidade foi aventada pelo deputado petista Devanir Ribeiro (PT-SP). "A democracia não impede consultas eventuais, mas não pode ser substituída pela mera consulta à massa popular, manipulada pela TV." Já o governador de São Paulo, José Serra, potencial candidato à sucessão do presidente Lula, acredita que este movimento não vai prosperar, apesar de admitir que pode ser um anseio da militância petista. "Faz parte da lógica de setores do PT. Não acredito em um movimento organizado. É um partido de natureza diferente de outros partidos brasileiros do ponto de vista de organização e da militância. A lógica dela poderá ser a de querer mais continuísmo, mas não acredito que haja um movimento organizado neste sentido e não acredito que vai acontecer", disse Serra. ATRASADO Em seu discurso para os delegados, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, aproveitou para cutucar Serra, com quem disputa a indicação do PSDB para a disputa presidencial de 2010. "Sinto-me como o José Serra, cheguei atrasado e atrapalhei o palestrante", disse. Aécio foi o último a chegar e entrou no salão exatamente no momento em que o paulista, famoso por seus sucessivos atrasos em cerimônias, discursava. Estavam presentes no congresso outros governadores tucanos, como Yeda Crusius (RS) e Teotônio Vilela (AL). O evento recebeu ainda muitos aliados, entre eles, o senador Marco Maciel (DEM-PE), o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), o ex-deputado pelo PPS, Roberto Freire, o presidente do PTB e deputado cassado, Roberto Jefferson, e o senador peemedebista Jarbas Vasconcelos (PE). Outro momento de descontração veio da juventude tucana. Um numeroso grupo adentrou o auditório durante a fala de FHC aos gritos de "PSDB é atitude. PSDB é juventude" e portando cartazes com os dizeres "Lula fanfarrão. Renan fanfarrão". Os jovens, assim como as bases do PSDB, clamam por maior participação nas decisões do partido, que atua mais na cúpula e promete com o novo programa discutido no evento dividir mais as deliberações. (Edição de Mair Pena Neto)

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