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FHC sobre o Canadá: "Se quiserem guerra, guerra é guerra"

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu nesta quinta-feira que o Brasil poderá entrar numa guerra comercial com o Canadá. "Na paz, se negocia; no armistício, se espera; na guerra, se briga. Depende do outro lado. Se quiserem o armístício, como agora, vamos esperar para negociar. Se quiserem paz, encantados. Se quiserem guerra, guerra é guerra", afirmou o presidente. Ele informou que a expectativa do governo brasileiro é de que o problema seja resolvido em duas a três semanas. As afirmações foram feitas ao Jornal Nacional, da tevê Globo. Na entrevista, ele disse ainda que a disputa "é um mau presságio" para a Aliança de Livre Comércio das Américas (Alca). "A Alca é o oposto do que está sendo feito. É abertura de mercado e não a utilização de barreiras quaisquer que sejam. Um país que cresce, como o Brasil, se torna um país incômodo." O presidente disse também que, na atual conjuntura, "não há clima" para a participação do Brasil na reunião da Alca, marcada para o final de abril, em Quebec (Canadá). Essa foi a tônica desta quinta-feira, em que as autoridades brasileiras fizeram ameaças a empresários canadenses do setor de telecomunicações, pronunciaram frases de efeito e se manifestaram na Organização Mundial do Comércio (OMC). Em uma nota conjunta, seis ministros reafirmaram que a atitude do Canadá "não encontra justificativa nos fatos e poderia ser interpretada como vinculada a interesses comerciais daquele país, o que seria inaceitável". No principal lance do dia, representantes de empresas de telecomunicações canadenses (Nortel, TIW e Bell Canada) foram chamados para uma reunião com o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, e o secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Roberto Giannetti da Fonseca. Os dois integrantes do governo informaram que, dependendo dos desdobramentos da crise, essas empresas poderão ser prejudicadas. "Temos inúmeras ações que podemos tomar, mas não vamos anunciá-las agora", disse o ministro. "Deixei claro a esses representantes que eles devem nos informar se o Canadá é país de empresa única ou se tem outras empresas, inclusive essas que estiveram aqui representadas. Se o Canadá for apenas o país da Bombardier, significa que estas empresas do setor de telecomunicações são empresas órfãs. Este foi o conteúdo ou a razão do nosso encontro", disse Pimenta. Pimenta e Giannetti ouviram o que queriam. O presidente da TIW Gunnar Vikberg, manifestou-se contrário à decisão do governo canadense. Embora ressaltasse que se tratava de uma posição da TIW e de algumas empresas canadenses, o que não representava a totalidade de investidores daquele País, Gunnar enfatizou que o conglomerado (TIW) "não concorda com a posição do governo canadense". O secretário da Camex anunciou ainda que outras medidas poderão ser adotadas. "Se chegar um contêiner canadense num porto brasileiro, vamos fiscalizar até a cor do parafuso", ameaçou. Ele esclareceu que nenhuma instrução será emitida nesse sentido. "Mas a sociedade brasileira está indignada, o presidente está indignado, o funcionalismo está indignado", disse. Em outras palavras, nada impede que funcionários brasileiros tenham má vontade com tudo que seja relacionado com o Canadá, dentro dos limites da lei. "Trataremos interesses canadenses da mesma forma que os restaurantes de São Paulo estão fazendo", disse o secretário. Giannetti disse ainda que o setor privado e o governo brasileiro poderão acionar o governo canadense, pedindo reparação por perdas e danos. Ele informou estar recebendo dezenas de telefonemas de frigoríficos que relatam dificuldades nos negócios. "Desse jeito, vou ficar mais louco do que a vaca", brincou. O prejuízo, segundo explicou, não decorre da suspensão das vendas ao Canadá, mas pelo efeito desta medida sobre outros mercados.

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