FHC quer candidatos fora do governo em janeiro de 2002

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Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Fernando Henrique Cardoso já começou a articular a antecipação, para janeiro, da saída dos ministros candidatos a cargos eletivos no ano que vem. A lei eleitoral exige que a desincompatibilização dos ocupantes de cargos públicos ocorra até abril, mas o presidente quer trabalhar com uma nova equipe com um orçamento anual completo, até como instrumento de atração para os substitutos. A idéia, sugerida a Fernando Henrique pelo ex-ministro Clóvis Carvalho há dois meses, vem encontrando resistências gerais, mais concentradamente dentro do PSDB, de onde provavelmente sairá o candidato do governo à sucessão. Os ministros da Saúde, José Serra, e da Educação, Paulo Renato, que juntos detêm dotação orçamentária maior do que todos os demais ministérios somados, argumentaram que o início de 2002 é importante para realização dos convênios, por meio dos quais o governo federal repassa recursos aos Estados e municípios. A lei eleitoral restringe a assinatura de convênios até seis meses antes das eleições de outubro, ou seja, até o final de março. A realização dos convênios significa o envio de recursos públicos às bases eleitorais para despesas diversas, executadas pelos governos estaduais e prefeituras. O Bolsa-escola, por exemplo, maior programa social do governo, conta com uma dotação de R$ 1,7 bilhão que não será totalmente gasta neste ano, porque não há tempo hábil para o cadastramento de milhões de crianças beneficiadas. Se o ministro Paulo Renato deixar sua pasta em janeiro, a meta será atingida por seu sucessor. O mesmo pode-se dizer dos projetos de saneamento, executado pelo Ministério da Saúde, por meio de ações junto a municípios, que só neste ano recebeu dotação de R$ 1,5 bilhão. Todo o projeto Alvorada, carro-chefe dos programas sociais do governo, começaria a apresentar resultados no ano eleitoral, quando os candidatos já não estariam à frente de suas pastas. Fernando Henrique, no entanto, está preocupado com a qualidade da equipe que permanecerá ao seu lado até o final do mandato e as condições para a mesma interessar-se em passar apenas 12 meses no governo. Com o orçamento comprometido pelos antecessores-candidatos, em programas já definidos, os sucessores seriam meros executores de obra alheia. Segundo contabilidade do Palácio do Planalto, 12 ministros deverão concorrer a cargos eletivos: Paulo Renato, José Serra, Aloysio Nunes (Secretário-geral da Presidência), Pimenta da Veiga (Comunicações), Roberto Brant (Previdência), Fernando Bezerra (Integração Nacional), Carlos Melles (Esporte e Turismo), José Sarney Filho (Meio Ambiente), Eliseu Padilha (Transportes), Francisco Dornelles (Trabalho), Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário), e Pratini de Moraes (Agricultura). Fernando Henrique já conversou isoladamente com vários ministros-candidatos, mas pretende levar o assunto a uma reunião da coordenação política. Nesta quarta-feira, o ministro Fernando Bezerra confirmou que o presidente já lhe disse que pretende fazer a mudança do Ministério em janeiro, para que os substitutos possam executar o orçamento inteiro. O ministro Aloysio Nunes disse que não conversou com o presidente sobre o assunto, talvez, segundo ele, pelo fato de ser um dos atingidos pela medida. Fernando Henrique tentou antecipar a desincompatibilização de seus ministros políticos no ano eleitoral de 1998. A tese foi defendida publicamente pelo ex-ministro Clóvis Carvalho, mas o presidente acabou desistindo de executá-la. Aloysio Nunes não quis opinar sobre a conveniência da antecipação, por ser parte da questão. "O presidente nunca me falou sobre o assunto", disse.

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