FHC pede PSDB nas ruas, mas 'dentro das regras'

Tucanos fazem ato no qual reforçam defesa da democracia; partido discute como aproveitar mobilização vista na campanha

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Por Ricardo Galhardo
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As eleições presidenciais deste ano levaram o PSDB a uma situação inédita. Pela primeira vez desde que deixou o governo federal, em 2003, o partido teve apoio popular na disputa contra o PT. No entanto, enquanto um setor da legenda defende que os grupos que foram às ruas sejam integrados ao ninho tucano, o viés de extrema direita mostrado por algumas organizações que defenderam a candidatura de Aécio Neves é motivo de preocupação para outro setor que teme a descaracterização ideológica do PSDB. Ontem, em ato político ao lado do senador Aécio Neves e do governador Geraldo Alckmin, principais postulantes tucanos à sucessão de Dilma Rousseff em 2018, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu que o partido continue nas ruas, mas determinou limites e filtros claros. "Hoje temos democracia, temos liberdade, e é dever nosso, em primeiro lugar, preservar a democracia respeitando as regras do jogo, respeitando a Constituição, aceitando derrotas e estando sempre dispostos, derrotados ou vitoriosos, a cumprir a lei e defender o Brasil", disse o ex-presidente. Os tucanos aguardavam um pronunciamento público de FHC desde que o deputado eleito Coronel Telhada (PSDB-SP) defendeu o separatismo do Brasil em uma rede social e a executiva nacional tucana questionou na Justiça Eleitoral o sistema de urnas eletrônicas. Em conversas reservadas. FHC tem dito que o PSDB não pode apoiar, por exemplo, o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff - a não ser que surja um motivo - e muito menos se misturar com grupos que defendem uma intervenção militar no País. Ele é apoiado por diversas lideranças, entre elas o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Indagado ontem sobre o impeachment de Dilma, Alckmin foi categórico. "Sou totalmente contra. Totalmente", enfatizou o governador. A declaração de FHC foi interpretada por tucanos como um recado. Mas nem todo mundo entendeu. Poucos minutos depois da fala do ex-presidente, a aposentada Marly Garcia Cesar, que prometeu participar de um ato hoje pelo afastamento da presidente, interrompeu o discurso de Aécio para perguntar se "ainda há esperança de tirar este governo corrupto". O senador mineiro, presidente nacional do PSDB, estabeleceu como limite o "respeito à democracia", mas incentivou a manifestação. "Todas manifestações são legítimas e a rua, como diz uma música baiana, é do povo. Dentro das regras democráticas, defendendo sempre a democracia, as manifestações são legítimas e devem continuar acontecendo", disse Aécio. Antes, em entrevista aos jornalistas, o candidato derrotado à Presidência afirmou que o não cumprimento da meta de superávit fiscal pode ensejar um processo de crime de responsabilidade contra Dilma. O crime de responsabilidade é um dos casos que podem motivar o pedido de impeachment de um governante. Abrir as portas. Já o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), candidato a vice e principal apoiador de Aécio em São Paulo, defendeu a entrada dos grupos que foram às ruas no partido. "Assumimos o compromisso de abrir as portas dos nossos partidos, não só PSDB, a essa militância, de chamar aqueles que despertaram para a política para que venham participar conosco, destrancar as portas de muitos diretórios para a nova política que saiu nas ruas. E dialogar também com as novas formas de organização", afirmou. Um dos entusiastas da entrada dos novos manifestantes no PSDB é o presidente do maior diretório municipal tucano, o da capital paulista, Milton Flávio. Ele defende que mesmo os mais radicais sejam incorporados ao PSDB e, depois, recebam formação política - uma forma de transformar "o joio em trigo". "Temos que manter este vínculo com as ruas", disse, esclarecendo que manifestações antidemocráticas estarão proibidas. "O PSDB não pode ser usado para canalizar qualquer coisa." Segundo Milton Flávio, o PSDB paulistano vive uma explosão inédita de filiações depois das eleições presidenciais. "Desde a criação do partido não vi nada igual", afirmou. Por outro lado, um grupo ligado a FHC tenta há mais de uma semana viabilizar um manifesto defendendo respeito aos princípios originais do PSDB e à social-democracia.

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