FHC não admite aliança com oposição

Para o presidente, "A aliança com a oposição significará rompimento com o governo"

Por Agencia Estado
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O presidente Fernando Henrique Cardoso está trabalhando nos bastidores para manter unida a base aliada e recomendando a seus ministros que não se envolvam na disputa pela sucessão na Câmara e no Senado. Mas enviou recado aos líderes do PFL, PMDB e PSDB que não vai tolerar alianças com partidos de oposição. "A aliança com a oposição significará rompimento com o governo", avisou Fernando Henrique a vários interlocutores que estiveram com ele nessa semana. O recado tem alvo certo: as articulações de setores do PFL e do PSDB com o PT, para apoiar seus respectivos candidatos (Inocêncio Oliveira e Aécio Neves, respectivamente) na disputa pela presidência da Câmara e também ao candidato das oposições à presidência do Senado, Jefferson Peres (PDT-AM). O presidente avisou que a aliança com as oposições implicará perda de cargos na administração federal. "O princípio vale para todos os candidatos, inclusive o Aécio (Neves, do mesmo partido do presidente)", disse um assessor palaciano. O presidente está preocupado com a governabilidade do País, ameaçada pelos freqüentes atritos entre lideranças dos partidos da base, principalmente pelo presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). Todo o esforço dos articuladores políticos do governo tem sido de preservar o presidente do desgaste decorrente desses atritos, sob o argumento de que a questão é pertinente ao Legislativo e não contou com a participação de Fernando Henrique para chegar ao nível de deterioração atual. "O presidente só interviria em caso extremo, se tivesse uma alternativa de solução, que não existe", um ministro que esteve hoje com Fernando Henrique e o encontrou bastante determinado. Apesar da preocupação, o Palácio do Planalto acredita numa acomodação dos partidos e na preservação da aliança. Para facilitar a acomodação, o ideal seria que Inocêncio vencesse a disputa na Câmara, na votação contra Aécio. Ministros e articuladores políticos do tucanato, ligados ao Planalto, estão de fora da candidatura Aécio, por considerá-la um complicador do quadro político. Para o presidente, é mais fácil acomodar Aécio em algum cargo federal, dando-lhe experiência administrativa, do que recompor um PFL alquebrado com a eventual derrota de Inocêncio. A candidatura de Aécio vem sendo articulada pelo ministro do Trabalho, Francisco Dornelles (PPB-RJ), com forte oposição de Paulo Maluf (PPB-SP), a principal liderança do partido. Maluf quer o partido apoiando Inocêncio, porque deseja opor-se ao tucanato que rejeitou sua candidatura à eleição para a prefeitura de São Paulo. Na avaliação dos articuladores políticos do governo, mesmo que Inocêncio perca a eleição para a presidência da Câmara, isso não mudaria muito a relação do Planalto com o PFL. A avaliação que predomina neste setor é de que, seguindo sua tradição histórica, os pefelistas jamais abandonarão o poder, mesmo que segmentos do partido - liderados por ACM e o próprio Inocêncio - venham a preferir uma posição de independência. "Não se pode confundir o PFL com o ACM ou o Inocêncio, eles não comandam o partido", frisou este interlocutor do presidente.

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