FHC diz que falta estratégia para o País

'Quando as coisas vão bem a sociedade perde o hábito de se preocupar com o futuro', disse o ex-presidente em palestra na Sala São Paulo

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Por Gabriel Manzano
Atualização:

Bem-humorado, fazendo rir seguidas vezes a plateia que lotou a Sala São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que "o que falta ao Brasil no momento é estratégia, a capacidade de inventar o futuro". FHC fez uma palestra na Sala São Paulo sobre "Os desafios do Brasil na Nova Ordem Global", na série "Fronteiras do Pensamento". "Quando as coisas vão bem a sociedade perde o hábito de se preocupar com o futuro. E isso aconteceu entre nós", observou.

 

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Segundo ele, no geral o País vive um bom momento, mas precisa superar três desafios: como oferecer emprego de boa qualidade, como transformar a democracia para que ela "seja algo na alma das pessoas, capaz de gerar um sentimento de igualdade entre todos' e, por fim, como superar a desigualdade. ''Avançamos algo, mas muito pouco", afirmou. "Tanto que, nos últimos 15 anos, os ricos aumentaram sua riqueza mais do que os pobres."

 

Ao falar de futuro, afirmou que "este momento, no mundo, não é rico em lideranças" e que "está faltando crença, pregação, utopia". Deu exemplos de mudanças fortes e rápidas, no planeta, com um impacto "talvez mais forte que o da Revolução Industrial".

 

De forma didática, diante de um público absolutamente silente, ele repassou a vida brasileira na cena mundial das últimas três os quatro décadas. Comparou a Europa de hoje, mergulhada na crise financeira, com a implantação do Plano Real, quando ele era ministro da Fazenda, em 1994. "Para que o plano funcionasse, tivemos de criar criadas regras e modelos - o Proer, a Lei de Responsabilidade Fiscal, limites na ação de Estados, municípios, ministérios. "A Europa tem hoje uma única moeda mas vive o dilema de não poder controlar seus gastos, pois cada país tem sua própria política monetária. Aí fica difícil."

 

Defendeu a urgência de uma grande mudança na educação. Hoje, afirmou ele, o governo tem um foco apenas na quantidade - quanto alunos, quantas escolas, quais as taxas de alfabetização etc. "É preciso saber o que está sendo ensinado. Se não houver boa formação, os jovens não terão chance no mercado. E é preciso que tenham valores, para atuar como cidadãos."

 

Outro dos desafios, prosseguiu, é a Previdência: ele lembrou que o País vive um ótimo momento porque "ainda há relativamente poucos aposentados e mais gente entrando no mercado" (e portanto contribuindo com a Previdência). Mas dentro de 20 ou 30 anos a situação se inverte. "É preciso ter já uma estratégia para quando essa hora chegar."

 

"Podia ter avançado mais, esse debate do futuro", prosseguiu. "Hoje se fala muito em mudança, mas ninguém quer mudar. O clientelismo, o fisiologismo, continua tudo aí."

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Na cena mundial, FHC elogiou a China, que há muitos anos "percebeu que precisaria do Brasil, um país que tem comida e tem minério". O que mostra que "os chineses descobriram o Brasil antes de nós descobrirmos a China". "Mas", perguntou, "que fará o Brasil quando a atual demanda chinesa diminuir? E, ainda: o que está sendo pensado sobre o impacto de um bilhão de islâmicos na política internacional?"

 

 

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