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FHC diz que Brasil já pagou pela crise argentina

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Por Agencia Estado
Atualização:

O Brasil já pagou os prejuízos causados à nossa economia pela crise argentina e, hoje, a muito custo, os mercados externos já diferenciam os dois países, segundo disse o presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista ao programa ?Milênio?, da Globo News. "Nós já pagamos, até injustamente (os efeitos da crise no vizinho país)", afirmou o presidente. "Este ano foi um ano difícil, não só por causa da Argentina. Mas a Argentina cooperou para essas dificuldades. Ou melhor, a Argentina não cooperou, mas os mercados financeiros internacionais é que usaram a Argentina. E essa questão da avaliação do risco Brasil pelo contágio da Argentina é uma coisa etérea, que no fundo resulta freqüentemente num aperto crescente nas nossas possibilidades de expansão econômica." Mudança de ótica De acordo com o presidente, os acontecimentos da última semana foram positivos, já que começa a haver uma diferenciação entre o risco Brasil e o risco Argentina. "O mundo percebeu que a economia brasileira tem recursos de defesa melhores. Nossa economia tem um equilíbrio fiscal maior. Nossa chamada vulnerabilidade externa não é tão grande quanto se imaginava. Ou melhor, ela existe, mas não terá as conseqüências tão negativas quanto se imaginava. A nossa dívida (externa) está espaçada no tempo, nossos compromissos para o ano 2002 não são tão elevados assim. Mesmo assim, nós pagamos um certo preço." Futuro do Mercosul Fernando Henrique manifestou sua preocupação com a possibilidade de a crise levar a Argentina a afastar-se do Mercosul, o que, segundo disse, reduziria as possibilidades de crescimento do principal parceiro do Brasil no bloco. "Eu sempre fui muito favorável à Argentina, não de agora, de sempre. Eu acho a Argentina um grande país, um grande povo, com uma capacidade extraordinária de produção intelectual, de produção agrícola e tudo o mais. Acho que nós devíamos pensar no nosso espaço, aqui na América do Sul, como um mesmo espaço", pregou. A importância da parceria O presidente disse ter achado ótimo quando, em uma visita recente ao Paraguai, lhe disseram que parte de uma fábrica de motores de Santa Catarina tinha se transferido para aquele país. "Não pode puxar tudo para um só", justificou. "O espaço que hoje se requer é um espaço amplo. O Brasil é um país grande, de 170 milhões de habitantes, tem recursos, mas mesmo assim não basta. A Argentina não pode caminhar sozinha, como não vai caminhar nenhum outro país. Nós temos que entender isso." Domingo Cavallo Fernando Henrique reconheceu que o ministro da Economia argentino, Domingo Cavallo, "que a toda hora provoca aqui reações muito fortes", é um lutador. "Ele não entrega os pontos. Você vê que ele está lá, digladiando, tentando dar uma saída, quase sufocado por todas as forças." E acrescentou: "Eu torço para que a Argentina dê certo, porque a Argentina dando certo dá mais espaço para nós voltarmos a ter uma integração mais forte." A ´crítica´ aos EUA O presidente esclareceu que, em seu discurso da semana passada na Assembléia Nacional francesa, não acusou os Estados Unidos de barbárie, por não darem a atenção devida às injustiças no comércio mundial de que são vítimas os países em desenvolvimento. "Eu não disse que o que eles fazem é barbárie, eu disse que fazer isso (impor-se unilateralmente ao mundo) seria barbárie, porque eles não podem fazer isso. Não fizeram agora! O presidente Bush, numa conversa comigo, pediu o quê? Que se separasse as coisas, buscou aliados." Fortalecer a ONU "Então?, prosseguiu FHC, ?vou aproveitar essa situação para dizer: ´está vendo?´. Por que não levar adiante uma política de fortalecimento das Nações Unidas? Vamos levar adiante uma política de coligação, e não uma política de imposição. Acho que contrastaram as minhas palavras como se fosse somente uma crítica aos Estados Unidos. Não, não. É uma crítica, também. Mas, no momento, os Estados Unidos estão mudando, porque não dá para fazer isso (impor-se pela força). Eu não tenho um pensamento contra os EUA, pelo contrário. Eu acho que os Estados Unidos têm uma matriz cultural como a nossa. Há muitos anos, como sociólogo, eu digo que o Brasil é mais próximo dos Estados Unidos que da Europa. Como matriz de sociedade, neste espaço imenso que nós temos, de mobilidade social, de diversidade cultural." Palestina e Caxemira Em sua entrevista, o presidente voltou a defender a criação de um Estado palestino e chamou a atenção para a crise entre a Índia e o Paquistão, em disputa pela Caxemira. Para FHC, por trás da guerra contra o Afeganistão existem problemas políticos da maior gravidade, dando a entender que Índia e Paquistão dispõem de armas nucleares. E sobre a crise no Oriente Médio, lembrou que o Brasil apoiou fortemente a criação do Estado de Israel, em 1948. "Agora, é hora de nós apoiarmos o Estado da Palestina, mas assegurando a vida de Israel." O presidente manifestou, inclusive, sua concordância para que o Brasil venha a integrar uma força de paz no Oriente Médio, "sob a égide das Nações Unidas".

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