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FHC critica protecionismo dos EUA

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Fernando Henrique Cardoso deixou de lado, nesta sexta-feira, a turbulência política causada pela decisão do STF sobre as coligações, e dedicou seu discurso, na solenidade de cumprimento aos oficiais-generais promovidos, a falar de um dos temas que mais o agradam: política externa. Fernando Henrique voltou a criticar o protecionismo norte-americano, que tem prejudicado o País, particularmente na questão do aço, e disse que ?esta luta não se ganha com improvisações e bravatas?, mas com ?inteligência, habilidade, profissionalismo e qualificação técnica?. A tentativa de golpe militar na Venezuela também mereceu destaque na fala do presidente. Segundo ele, aquele episódio ?foi um sinal claro da necessidade de nos mantermos atentos aos riscos e incertezas que cercam a preservação da democracia em nossa região?, ressaltando que o Brasil se manifestou claramente contra a ruptura da ordem institucional na Venezuela. Fernando Henrique mostrou-se otimista em relação ao futuro da Argentina. Afirmou que tem conversado com o presidente Eduardo Duhalde e informou que vai continuar trabalhando pelo fortalecimento do Mercosul. Sobre a criação da Alca - Área de Livre Comércio das Américas -, o presidente salientou que ela será bem-vinda, se atender os interesses do País, e disse que ninguém, em sã consciência, participa de um projeto que lhe traga prejuízos. Sobre a crise no Oriente Médio, o presidente reiterou que o esforço de paz na região passa, necessariamente, pelas perspectivas de construção do Estado Palestino, e salientou que o Brasil pode dar uma contribuição importante para isso. Mas ressalvou que, qualquer iniciativa de cooperação pressupõe, naturalmente, a completa rejeição aos atos de violência e terrorismo. O presidente voltou a responder indiretamente aos críticos que alegam que o seu governo não promoveu avanços sociais. A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), reunida em São Paulo, afirmou, em documento, que ainda há fome no País. ?O futuro reconhecerá como de grandes avanços nos campos social, político e econômico?, afirmou. A seguir, os principais trechos do discurso do presidente: Oriente Médio - Dentro das nossas possibilidade, temos nos empenhado em contribuir para o fim desse quadro de confrontação, de ódios e animosidades no Oriente Médio, que tem abalado de tal forma as relações internacionais. É claro que há outros países com reservas de poder maiores do que as nossas. Cabe a eles a responsabilidade primordial para a solução do conflito entre israelenses e palestinos. Mas o Brasil não se omite em cumprir a sua parte dentro de um contexto internacional, no qual desejamos ver florescer cada vez mais atitudes de diálogo, solidariedade, cooperação, e não atos de imposição, intolerância e irracionalidade. Essa disposição brasileira pode materializar-se em ações práticas. Qualquer iniciativa de cooperação passa pela completa rejeição ao terrorismo. Temos sido enfáticos nesta matéria, não só após o 11 de setembro, pois isso é o que está escrito na nossa Constituição, mas está arraigado na consciência do nosso povo. Venezuela - Se o mundo de hoje deve estar unido no combate ao terrorismo, é preciso manter a mesma coesão na defesa da democracia. O que se passou recentemente na Venezuela é um sinal claro das necessidades de nos mantermos atentos aos riscos e incertezas que cercam a preservação da democracia na nossa região. O Brasil manifestou-se claramente contra a ruptura da ordem institucional na Venezuela e saudou o retorno de seu presidente como um marco significativo dos esforços de consolidação democrática na América do Sul. A democracia, além de ser um valor fundamental a ser defendido e preservado, é uma exigência prática, um requisito essencial da luta pelo desenvolvimento econômico e social. Princípio - Eu próprio me empenhei, primeiro no âmbito do Mercosul, depois na reunião dos presidentes sul-americanos para a aprovação daquilo que ficou conhecido como uma cláusula democrática. E ela, que posteriormente foi estendida ao sistema interamericano como um todo, foi invocada expressamente pelo governo brasileiro na quebra institucional recente da Venezuela. Os países da região são solidários uns com os outros na defesa da democracia. Ou seja, defender a democracia em um país vizinho é tão importante quanto defendê-la em seu próprio país. O país responsável pela ruptura institucional é passível de sanções e até mesmo da exclusão dos fóruns que representam a convivência democrática na região. Creio neste sentido que o exemplo da Venezuela foi uma experiência importante, na qual o Brasil assumiu postura firme e coerente. Aço - A questão do aço, por exemplo, é um caso claro das dificuldades do protecionismo que as práticas desleais de comércio nos têm criado. Enfrentamos essas dificuldades sem timidez ou temor, pelo contrário, com empenho e competência dos nossos negociadores. A luta por maiores espaços no comércio internacional é uma luta que não se ganha com improvisações ou com bravatas. Na verdade é uma luta que requer inteligência, habilidade, profissionalismo e qualificação técnica. É uma luta que passa sobretudo pela ação conjugada dos órgãos governamentais, das empresas, das consultorias, das entidades representativas, enfim é uma luta coletiva. Mercosul - Se hoje o Mercosul passa por problemas que são resultado de conjunturas econômicas adversas, está cada vez mais firme e consolidado como projeto de integração entre sociedades. Tenho convicção de que o Mercosul continuará fortalecido, talvez adaptado às novas realidades, mas sempre revigorado politicamente em seus objetivos essenciais. Estamos trabalhando de forma concreta para o fortalecimento do Mercosul, tendo presente também a importância do bloco no contexto das negociações para a criação da Alca. Alca ? A Alca será bem-vinda se atender a nossos interesses. Ninguém, em sã consciência, participa de um projeto que lhe traga prejuízos ou diminua suas chances de crescer. Assim como queremos um Mercosul onde todos os países-membros podem crescer, também queremos uma Alca forte e viável onde todos ? e não uns poucos ? possam auferir vantagens, expandir mercados e ganhar competitividade. União Européia ? No mês de maio estaremos em Madri, em uma reunião dos presidentes da União Européia e do Mercosul quando tentaremos avançar alguns passos nas negociações comerciais entre os dois blocos. Argentina ? A Argentina tem vivido um período bastante difícil, mas reencontrará seu caminho de estabilidade e progresso. Tenho conversado com o presidente Duhalde - assim como têm feito entre si os ministros brasileiros e argentinos ? sobre as possibilidades de retomada dos fluxos de comércio, em níveis que possam ajudar a recuperação econômica da Argentina. Espero que em breve possamos concluir negociações relativas ao setor automotivo, que é de fundamental importância para nós, mas, nesse momento, sobretudo, para o país irmão e vizinho. Instabilidade ? Todos sabemos que a América do Sul tem apresentado focos de instabilidade e de incerteza. Isso representa um desafio para o Brasil, cujo propósito é justamente o de contribuir para a construção do espaço de integração sul-americana, que seja um espaço de democracia, de paz e de desenvolvimento. Guayaquil ? Em julho haverá uma segunda reunião de presidentes da América do Sul, em Guayaquil, no Equador. Espero que possamos avançar nas questões fundamentais que dizem respeito a esse projeto, como a integração física e energética, o combate ao narcotráfico, a defesa da democracia e dos direitos humanos, a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Estabilidade ? A estabilidade, as reformas, o fortalecimento da cidadania, a maior capacitação científica e tecnológica, os esforços de transformação social ? tudo o que temos feito no Brasil ao longo desses últimos anos, nos credencia para enfrentar os desafios do século 21. Não tenho dúvida de que, hoje, compartilhamos um momento que o futuro reconhecerá como de grandes avanços nos campos social, político e econômico. Esses avanços reafirmam uma posição de destaque no nosso país no contexto internacional. Forças Armadas ? Nesse novo mundo de incertezas, nesse novo mundo que o Brasil tem um papel crescente, o desenvolvimento das Forças Armadas são o esteio da nossa possibilidade de continuarmos no caminho que tem sido trilhado por nós, de uma afirmação tranqüila dos nossos interesses, da nossa soberania, sempre neste espírito de paz e concórdia, mas que não descuida da necessidade de defesa.

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