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FHC critica Lula e aponta "campanha difamatória"

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Fernando Henrique Cardoso insistiu hoje que não houve liberação de verba para convencer parlamentares a retirarem suas assinaturas do requerimento para instalação da CPI da Corrupção e disse estar sendo vítima de uma "campanha difamatória". "Não é possível que o governo tivesse liberado verbas para pessoas que ele não sabia quem eram", disse, garantindo que, até ontem, ele não tinha conhecimento nem sequer de quais deputados mudaram de posição. Dizendo-se cansado de leviandades, o presidente rebateu as críticas feitas pelo presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que o associou à corrupção. "Uma pessoa que é líder nacional não pode se dirigir ao presidente da República dessa maneira. Isso é leviano. E uma pessoa leviana não se qualifica para ser presidente da República." Fernando Henrique está em São Paulo desde sexta-feira. Hoje, deixou seu apartamento pela primeira vez para acompanhar o ex-ministro Clóvis Carvalho até o carro. Na volta, disse que não falaria com os jornalistas, perguntou pela equipe da Rede Globo e acabou concedendo entrevista. Fernando Henrique disse que não se pode ficar repetindo "inverdades", numa referência às notícias divulgadas nos últimos dias de que o governo federal liberou mais de R$ 78 milhões para emendas parlamentares. O dinheiro teria feito com que integrantes da base governista retirassem seus nomes do requerimento de CPI. Os Estados mais beneficiados foram a Bahia (R$ 6,8 milhões), Roraima (6,1 milhões), Santa Catarina (3,9 milhões), Piauí (R$ 3,8 milhões) e Rio de Janeiro (3,6 milhões). Foi justamente na Bahia e no Rio de Janeiro que o governo conseguiu o maior número de desistências de parlamentares. "O governo libera recursos diariamente e, quanto eu saiba, não houve nenhuma instrução para que liberasse para beneficiar este ou aquele." Ele insistiu que as liberações são poucas e que o ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Martus Tavares, foi à Comissão de Orçamento e ouviu reclamações pela falta de autorização de recursos. "É muito fácil pegar a relação de liberação e dizer que foi por isso. O elo entre liberou e, então, o sujeito mudou de voto ou é provado ou é uma infâmia." Em uma das críticas mais duras que fez recentemente ao presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique respondeu às afirmações de seu opositor, que associou o presidente à corrupção. "Eu nunca me empenhei para que houvesse apuração para saber se houve efetivamente advocacia administrativa do Lula para liberar verbas para prefeituras do PT." Ele se referia às acusações de tráfico de influência que envolveriam a Consultoria para Empresas e Municípios (CPEM), o advogado e amigo de Lula, Roberto Teixeira e o próprio presidente de honra do PT. "Então, não pode vir dizer que o presidente tem de se explicar moralmente." Fernando Henrique prosseguiu, dizendo que não estava acusando Lula, que sempre o havia defendido. "Mas se fosse para fazer política da infâmia, poderia fazer o mesmo. Por que não apurar as prefeituras onde liberação de recursos do PT de um amigo do Lula?" O presidente voltava a falar no caso CPEM, que veio à tona em 1997, por meio do economista Paulo de Tarso Venceslau, ex-militante do partido. "Se eu quisesse falar de corrupção eu diria que ele pode ter sido envolvido porque há um processo feito por um militante do partido dele acusando-o de haver ajudado a liberar verbas para o PT. Eu não endosso isso." Fernando Henrique admitiu adotar, neste momento, uma posição mais combativa em relação à oposição, por considerar a atual série de críticas provenientes de uma postura equivocada por parte de seus opositores. "Estou reagindo fortemente porque são indignas as acusações que vêm sendo feitas contra o governo. Eles falam de um lado e eu devolvo." O presidente pediu à oposição um tratamento de "correção" e "reciprocidade" O presidente buscou esclarecer o episódio envolvendo o ministro da Previdência, Roberto Brant, que procurou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) para tentar demovê-lo da disposição de apoiar os partidos de oposição. Fernando Henrique desmentiu informações publicadas pelo jornal O Globo, que informou que a conversa com ACM teria sido um pedido pessoal dele. "Eu não estou envolvido na negociação de qualquer espécie sobre a questão do Senado. Eu não faria nenhuma junção entre CPI e Senado." Segundo Fernando Henrique, o ministro disse, num telefonema ao presidente, que dirigentes do PFL estiveram com o senador para discutir "politicamente" a questão. O presidente teria sugerido que Brant "protestasse" contra isso. "Eu tenho dito e reitero que a minha oposição não é a qualquer CPI. É essa porque essa se tornou palanque da oposição. É uma maneira de inviabilizar o governo." Em Belo Horizonte, Brant, confirmou hoje ter procurado ACM, mas foi taxativo ao negar o envolvimento do presidente Fernando Henrique Cardoso. "Foi uma iniciativa pessoal minha, a pedido do Bornhausen", reieterou. Segundo Brant, na última terça-feira o presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen (SC), fez um apelo para que ele interviesse junto a ACM e conquistasse o apoio do senador baiano para derrubar a CPI da Corrupção. Na entrevista que concedeu em frente do prédio onde tem um apartamento, no bairro de Higienópolis, na capital paulista, Fernando Henrique também disse que não acredita que o senador Saturnino Braga (PSB-RJ) tenha participado de algum "conchavo" e, por isso, atrasado a entrega do relatório do Conselho de Ética sobre ACM e José Roberto Arruda (sem partido-DF). "Ele é um homem digno." Leia também: CPI da Corrupção "não existe", ataca FHC ´Desistentes´ estão na mira dos eleitores Oposição tentará comissão no Senado

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