FHC critica Bush e quer maior apoio à Argentina

Por Agencia Estado
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O presidente Fernando Henrique Cardoso considera que a Argentina seguiu à risca a cartilha do chamado Consenso de Washington, fez tudo o que lhe aconselharam os organismos internacionais, com exceção do currency board, que adotou por conta própria, e não é justo que agora lhe dêem as costas. Foi uma das avaliações feitas pelo presidente em entrevista na noite passada ao ?Espaço Aberto?, da Globo News, quando também criticou seu colega americano George W. Bush e o que chamou de "aliança do arcaico", formada por setores da Fiesp, do PT e do Iedi. Os principais trechos da entrevista: A crise argentina O presidente disse ser muito difícil que o governo argentino parta para a desvalorização do peso, pondo fim ao câmbio fixo atrelado ao dólar, mas defendeu um forte apoio externo para que a economia do vizinho país volte a crescer. E justificou a razão deste apoio: "A Argentina fez tudo o que se pediu a ela. Esses consensos de Washington, os grandes sábios do mundo, tudo o que eles quiseram que fosse feito, a Argentina fez. Agora vai ser penalizada pelo que fez." Hipocrisia externa FHC classificou de "uma certa hipocrisia" a atitude de quem hoje prega que a Argentina é quem deve resolver seus próprios problemas. "Mais quais são ´seus´ problemas? Os problemas dela são criados por um contexto internacional que a levou a esta situação." George Bush "O povo americano escolheu Bush, então ele é o presidente. A despeito da minha visão (sobre os problemas internacionais) ser outra, nós vamos ter que nos defrontar é com a política que vai ser levada adiante a partir da visão dos que estão mandando nos Estados Unidos hoje. Isso não quer dizer que nós tenhamos que aceitar passivamente (suas decisões). Nós não aceitamos Kyoto (a recusa de Bush em aderir ao protocolo de Kyoto para a redução da emissão de gases na atmosfera). Agora em Bonn o Brasil lutou junto com outros e levou uma posição que uniu a Europa." Jader Barbalho "Politicamente, a situação dele (Jader Barbalho) é delicada. Ele só tem um caminho. Qual é o caminho? É de mostrar que o que estão dizendo não é certo. É o que ele vai ter que fazer. Isso eu acho que é inevitável. Eu quero deixar uma coisa bem clara nesse ponto: essa assim chamada ´limpeza ética´ é muito boa. E o governo fez o que tem que fazer. Não é botar lenha na fogueira, mas também não é jogar água para apagar o fogo. Há o problema? Nos canais competentes, institucionalmente, vamos esclarecer esse problema. O governo não está botando nada debaixo do tapete. Nada. Nem no caso de Sudam, Sudene, DNER... Defesa do modelo Fernando Henrique deixou claro que seus ministros e os que participam da base aliada devem ser firmes na defesa do governo. "Se não defenderem este (nosso) modelo, não têm o que defender, porque para criticar tem gente que critica melhor e criticam com mais legitimidade." E acrescentou: "Eu duvido que o José Serra e o Tasso possam dizer que a economia brasileira é muito aberta. Eles dizem é outra coisa: que ela foi mal-aberta, e eu concordo. Num dado momento, ela foi aberta assim abruptamente, sem negociação." Aliança do arcaico Para FHC, há setores da Fiesp, do Iedi e do PT para quem a economia brasileira é muito aberta, com o que não concorda, ao lembrar que nossas importações somam menos de 10% do PIB. "É a aliança do arcaico. Será que essas pessoas não percebem que nós estamos numa outra etapa do capitalismo mundial, e o Brasil é parte do mundo?" País fechado O presidente prosseguiu: "Então, ficam sonhando que podia ser um país mais fechado e que o governo pudesse escolher quais são os capitalistas que vão ganhar muito e qual é o povo, que é o nosso, que vai pagar um preço alto para eles ganharem muito. E foi assim que se fez, numa certa etapa, o crescimento da economia brasileira. Mas numa certa etapa. Se quiser, pode ir até mais para trás, onde há etapas até mais absurdas; houve momentos em que o Estado foi ainda mais dominante, no sentido de proteger o Brasil." Candidatura Malan Sobre a possível filiação de seu ministro da Fazenda ao PSDB para concorrer em 2002, o presidente disse ter ouvido do próprio Pedro Malan sua negativa a respeito. E brincou com a entrevistadora: "Você é quem está querendo que ele seja candidato, porque só pergunta sobre o Malan e diz que o Tasso e o Serra não vão defender o programa de governo". E, referindo-se aos repetidos discursos feitos ultimamente por Malan em defesa do governo e de críticas às propostas do PT, FHC afirmou que todos os demais ministros deveriam seguir o seu exemplo. Para o presidente, as críticas de Malan ao PT são porque o partido foi o único até agora a colocar algumas idéias no papel, "erradas, mas pôs no papel". Aumento do funcionalismo Sobre o pretendido aumento do funcionalismo público federal, o presidente disse que repor a inflação integral em seus salários é precipitar a indexação, que provoca mais inflação e prejudica a economia. "Isso não quer dizer que os funcionários não mereçam aumento. Mas se você atar o aumento do funcionalismo a índices inflacionários, repõe-se a indexação que impede que o real funcione."

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