FHC assume comando da operação anti-CPI

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Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu nesta quarta-feira, pessoalmente, o comando da operação para desmontar a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista destinada a apurar a corrupção no País. Sentado à cabeceira da mesa de reunião do Palácio da Alvorada, o presidente fez uma cobrança dura aos 12 ministros políticos convocados a participar da operação. ?O governo precisa entender que estamos diante de uma guerra política em que a oposição tenta criar um palanque para definir 2002, com uma CPI que põe em risco todas as nossas conquistas e o nosso projeto?, disse Fernando Henrique. ?Quero uma ação política porque esta batalha é política?. Mais do que convocar os ministros e líderes governistas e de partidos aliados a compor a força-tarefa do Planalto, o presidente deixou claro que considera a CPI ?um divisor de águas?, salientando que quem mantiver a assinatura no requerimento da oposição, propondo o inquérito, será tratado como adversário do governo. ?O presidente determinou aos ministros que expliquem à sociedade o porquê de o governo ser contra a CPI da corrupção?, resumiu na noite desta quarta-feira o porta-voz da Presidência, Georges Lamazière. Não só. Na operação para a retirada das assinaturas, os ministros foram orientados a usar ?os argumentos e instrumentos políticos disponíveis?, o que inclui o levantamento de cada ?pendência? dos dissidentes em cada ministério. Todos os ministros deixaram o Alvorada com a lista dos dissidentes da base que assinaram a CPI e a incumbência de apressar o atendimento dos pleitos que estão dormindo nas gavetas dos ministérios, de convênios com as prefeituras que compõem a base eleitoral dos desertores e de liberação de emendas orçamentária já aprovadas, algumas delas ainda em 1999. Isto explica a presença do ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Martus Tavares, na reunião do Alvorada. ?Tudo o que for legítimo e não for eticamente ou legalmente vedado, nós faremos?, resumiu um ministro político que participou do encontro. O próprio presidente Fernando Henrique confidenciou a um interlocutor do PSDB que estava disposto a recorrer a todos os métodos disponíveis para evitar a CPI, inclusive a velha e eficiente barganha política. ?Nada será pior e mais prejudicial ao governo do que uma CPI, que é o maior de todos os desgastes?, disse Fernando Henrique ao interlocutor. O vice-presidente do PSDB, deputado Alberto Goldman (SP), não só concorda como acrescenta que o governo vai acabar fazendo agora a ?lição de casa? que já deveria estar pronta. ?Receber parlamentares que às vezes esperam dois meses por uma audiência, ajudar aliados a atender os pleitos legítimos de suas bases e liberar emendas atrasadas é cumprir, com atraso, uma obrigação?, defende Goldman. Na avaliação de um dos ministros presentes, quem entra atrasado em uma operação que é ?de vida ou morte? para o governo, não pode dispensar ?instrumento algum? no trabalho de convencimento dos parlamentares. Vários ministros e líderes apontaram não só o atraso como a falta de coordenação política do governo que avaliou mal a capacidade de articulação dos partidos de oposição. Por isto, a ordem agora é preparar logo o próximo passo, o da contestação da constitucionalidade do requerimento da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. O governo tratou logo de mapear, também, os aliados da CCJ e seus pleitos pendentes na Esplanada dos Ministérios. Para tirar o atraso, os ministros já deixaram o Alvorada discursando, para explicar aos eleitores e à sociedade em geral as razões do governo que rejeita a CPI ?eleitoral e oportunista?. ?O governo já está investigando corrupção?, disse o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho (PFL-MA). ?Só no caso da Sudam, 30 pessoas já estão na cadeia por conta de irregularidades apuradas pelo próprio governo?, destacou Eliseu Padilha (PMDB), dos Transportes, repetindo o que o próprio presidente havia salientado na reunião. O trabalho de conscientização da sociedade foi considerado importantíssimo por razões pragmáticas: ?Se convencermos os eleitores e os financiadores das campanhas, os deputados retiram suas assinaturas?, analisou um dos ministros. O deputado Francisco Dornelles (PPB-RJ), que exonerou-se do ministério do Trabalho para concentrar-se na operação desmonte pelo tempo que for necessário, começou logo cedo, evitando a adesão de quatro pepebistas gaúchos que haviam prometido apoio à oposição e negociando a retirada de um quinto nome - Augusto Nardes (PPB-RS), que já constava do requerimento. ?Esta CPI é um movimento político que visa a paralisar as ações do governo, reter a reforma do Estado, rever as privatizações e criar dificuldades para o crescimento e a geração de emprego, além de criar um fato político eleitoral antes da hora?, disse o ministro exonerado. Àquela altura, o ministro da Previdência, Roberto Brant (PFL-MG), já havia visitado o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), dono de cinco votos de pefelistas pró-CPI na Câmara. ?A lógica de todo partido é chegar ao poder, e cada assinatura é um golpe no nosso projeto?, defendeu Brant, segundo quem ACM não se comprometeu, mas tampouco fechou as portas para um entendimento. Embora ninguém admita falar em ?acordão? para salvar ACM no Senado e o governo no Congresso, um carlista ilustre admite que a ?recomposição? está em curso. ?A conclusão geral é de que os erros e os atrasos do governo, somados à briga na base por conta da guerra entre ACM e Jader (Barbalho, presidente do Senado), deram no desastre de termos a minoria oposicionista no controle do Congresso?, diz o carlista.

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