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Feridas na ação, hoje ex-alunas se orgulham

Em reencontro, elas dizem que movimento ajudou na reabertura

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Por Redação
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Trinta anos depois, as duas antigas companheiras de luta se reencontraram. Iria Visoná e Graziela Eugenia Augusto se abraçaram e trocaram beijos. Durante uma hora e 15 minutos, recordaram a noite fatídica. Resgataram cenas das quais jamais conseguiram se desvencilhar. O relato das duas é pontuado de amargura, mas não de arrependimento, porque acreditam que os estudantes nas ruas foram decisivos para a abertura. Veja mais fotos da invasão Aquela noite... Iria: "Eu corri, me fizeram correr, você vai junto com a multidão. Lembro de ter sentido um ardor muito forte, mais forte ainda no joelho esquerdo. Caí em cima de uma bomba, de joelho. A parte da frente da minha calça de brim sumiu inteira! Fiquei jogando água no ferimento, não sabia que era queimadura. Tinha uma fumaceira forte. A polícia deu ordem para todo mundo sair de mãos dadas. Lembranças ruins. Falaram que pegou fogo porque a gente estava usando roupa de náilon por baixo. Mas a minha era algodão 100%. Quando me viram sangrando, me puseram no camburão com outros feridos. Fui para o Hospital das Clínicas. Os médicos rasparam a pele da minha coxa para fazer enxerto. Nunca mais usei saia. Valeu a pena lutar, participamos da história. Eu era militante, mas não era fanática. Tinha os fanáticos da classe." Graziela: "A gente se reuniu em frente ao teatro (Tuca). Um orador lia a carta e a gente repetia. Aí chegaram os carros da polícia. Escutei um barulho muito forte, explosões de bombas, foi um tumulto. A polícia cercou o prédio. Todo mundo ficou espremido na rampa (ao lado do Tuca). Todo mundo queria fugir, bateu pânico. Caí numa escada, só vi um clarão e desmaiei. Quando abri os olhos, estava rolando no chão. Era bomba incendiária sim. Fiquei em estado de choque, na hora não sentia nada. Queriam me levar a pé, eu gritei que não podia. Havia outros feridos na ambulância. O gás sufocava. Não me lembro quantas cirurgias sofri, três, quatro, sei lá. Eu não me arrependo. A gente queria um Brasil sem repressão. Eu ia em todas as passeatas. Fiquei abalada, mas superei." A Justiça levou 20 anos para impor ao governo a reparação a Iria, a Graziela e a outras estudantes. Iria recebeu cerca de R$ 50 mil. Graziela um pouco menos. "Foi uma luta muito grande", relata Iria. "Meses depois encontrei uma militante, ficou uma situação meio estranha. Perdi praticamente o semestre. Essa história me magoa. No ano seguinte, teve um encontro dos estudantes e me trataram meio friamente. Acharam que eu tinha feito sensacionalismo." A invasão foi alvo de Comissão Especial de Inquérito na Assembléia. Erasmo Dias foi incriminado por abuso de autoridade e crime de responsabilidade, mas a Procuradoria-Geral de Justiça mandou arquivar o caso.

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