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Férias escolares agravam penúria

Despesas com alimentação aumentam quando crianças não estão na escola e nem benefício do programa resolve

Por Roldão Arruda
Atualização:

Ao contrário do que ocorre com a maioria das mães de famílias de classe média, que espera as férias escolares como períodos de relaxamento e de maior convivência com os filhos, Ana Cristina Souza, de 31 anos, teme a sua chegada. Mãe de cinco crianças - e grávida da sexta -, ela conta que as despesas com alimentação aumentam muito quando as crianças não estão na escola. "Nas férias, tem dia que elas pedem pão e nem isso eu tenho para dar", diz. "Nessa hora, nem o que eu recebo do Bolsa-Família, R$ 112 por mês, ajuda muito." O drama de Ana Cristina é comum à maioria das 11,2 milhões de famílias assistidas pelo Bolsa-Família, segundo pesquisa por amostragem que acaba de ser realizada pelo Ibase entre 5 mil titulares do cartão. Ela mostra que a merenda escolar oferecida nas escolas públicas é a segunda forma mais importante de alimentação das famílias pobres - o que acaba tendo um peso importante no orçamento familiar. Quase 33% dos titulares pesquisados admitiram que o nível de alimentação familiar piora nas férias; e 71% disseram que seus filhos comem merenda todos os dias. No caso de Ana Cristina, cujo companheiro ganha cerca de R$ 600 mensais como ajudante de obra, as crianças saem cedo sem tomar o café da manhã: "Eles lancham na escola e já vêm de lá almoçados. À tarde vão para um centro de convivência, onde também lancham e jantam. A despesa aumenta no fim de semana e nas férias." Além da alimentação, cada criança matriculada nas escolas municipais recebe mensalmente 5 latas de leite em pó. Com os R$ 112 que ganha por mês, Ana Cristina compra alimentos, roupas e, às vezes, ajuda o marido nas despesas fixas da casa, como o condomínio, de R$ 36 - por um apartamento de dois quartos no conjunto habitacional Cingapura Uirapuru, no extremo oeste de São Paulo. "No mês passado eu tirei uma parte para comprar chinelo para as crianças", conta. "Nesse mês quero ver se compro alguns sapatos. Como eu tive uma infância muito ruim, na favela, às vezes eu também agrado eles com bolachas, danones, misturas que eles gostam. No ano passado, no Dia da Criança, levei eles ao McDonald?s. Nesse ano acho que vamos ao Habib?s. Quando eles começam a pedir doce, isso e aquilo, eu digo: calma, calma, que o Bolsa-Família está chegando." No final do relatório da pesquisa, os pesquisadores do Ibase sugerem ao governo a ampliação da alimentação escolar e a implementação de programas direcionados para a educação alimentar dos beneficiários - ressaltando a importância do consumo de frutas, legumes e verduras adicionados à mistura do arroz e feijão; e redução do consumo de açúcares. Essa educação, segundo o Ibase, poderia ser feita por meio da escola. Ana Cristina diz que no seu caso não vai ser preciso mudar muito: "Quando chega o dinheiro, eu nunca deixo de dar uma passadinha no sacolão, para comprar frutas e verduras. Não vou à feira porque lá é tudo muito caro. O que me preocupa agora é o arroz - o preço está subindo tanto que daqui a pouco não vai dar pra comer mais."

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