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Fechado há seis meses, Incra acumula processos atrasados em SP

Cerca de 2 mil ações de regularização fundiária estão atrasadas; situação prejudica produtores rurais e assentados de áreas agrícolas

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Por Bruno Ribeiro
Atualização:

Com a sede em São Paulo fechada desde setembro do ano passado por decisão da Justiça, a superintendência paulista do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) acumula cerca de 2 mil processos de regularização fundiária atrasados. A situação prejudica de produtores rurais a pequenos assentados de áreas agrícolas. 

Parte dos servidores do órgão está em casa, trabalhando remotamente, enquanto outros ocupam, provisoriamente, a sede do Fundacentro, órgão federal voltado a pesquisas sobre a segurança do trabalho, na zona oeste da cidade. No bairro de Santa Cecília, onde fica a sede, há um setor de protocolos, no térreo, que funciona até as 15 horas, em meio às obras de readequação do prédio. Os demais andares estão vazios. 

Prédio do Incra no bairro de Santa Cecília, em São Paulo; sede está fechada desde setembro do ano passado Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

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O Incra reconheceu o acúmulo de processos e afirmou que uma força-tarefa formada no mês passado atua para dar conta da demanda acumulada. Os 20 servidores dessa equipe estão no prédio da zona oeste. 

O fechamento, em setembro, foi resultado de uma ação civil apresentada à Justiça pelo Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal do Estado de São Paulo (Sindsef-SP), que alegava falta de segurança. O prédio não contava com sistemas adequados de combate a incêndio e tinha instalações elétricas desprotegidas, com infiltrações e ambientes favoráveis à proliferação de doenças, segundo laudo anexado ao processo. 

O Ministério Público se posicionou contra o fechamento da unidade, mas, diante de informações repassadas pelo Corpo de Bombeiros – que esteve no local –, a Justiça optou pelo fechamento até a realização das reformas. As obras foram iniciadas apenas em janeiro e devem terminar em abril. Foram orçadas em cerca de R$ 800 mil. 

Cadastro

O Incra é o órgão responsável pela emissão do Certificado de Cadastro de Imóvel Rural, documento que atesta a propriedade de qualquer área fora de centros urbanos do País, cujo cadastro serve de cálculo para o Imposto Territorial Rural. “Sem o cadastro, o proprietário de terra não consegue vender sua fazenda”, disse o advogado Renato Guilherme Goes, presidente da Comissão de Regularização Fundiária da Ordem dos Advogados do Brasil, seção São Paulo (OAB-SP). “É grave o fechamento da sede do Incra em São Paulo.” 

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Produtores que precisam atestar a posse de suas terras têm de fazer o georreferenciamento da área, processo que, depois, é validado pelo Incra. Segundo o advogado, mesmo antes do fechamento, já havia morosidade no processo. “Por ausência de estrutura, isso demora”, afirmou, citando carências que vão de pessoal a carros. “Em São Paulo, o atendimento já era muito ruim antes do fechamento. O atendimento não era o dia inteiro, havia dois funcionários, e, se você perguntava uma coisa, era outro, que não estava lá, quem sabia o que dizer.” 

Na sede do Incra em São Paulo, um aviso alerta sobre um sistema fora do ar, sem 'previsão de retorno' Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

O vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira, Francisco de Godoy Bueno, relatou um caso. “Tem um cliente meu que tem uma pequena propriedade em Barretos, que já foi vendida e ele até já recebeu parte do pagamento, mas espera, desde setembro, a emissão do certificado”, afirmou Bueno. 

No ano passado, o governo Jair Bolsonaro editou a Medida Provisória da Regularização Fundiária, que determinou que caberá ao órgão validar os processos em que os proprietários enviam declarações sobre a posse de suas terras. Por outro lado, serviços prestados à população alvo de ações de reforma agrária deixaram de ser prestados. Isso provocou protestos de entidades ligadas à defesa da reforma agrária. 

No caso dos pequenos produtores rurais, o atraso na conclusão de processos administrativos do Incra deixa cidadãos expostos à miserabilidade, de acordo com a presidente da Frente Parlamentar da Reforma Agrária da Assembleia Legislativa de Sâo Paulo (Alesp), deputada Márcia Lia (PT). 

“Há vários processos de reconhecimento (da posse de terras) parados”, disse a deputada, citando assentamentos rurais e comunidades quilombolas.

Fila

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária afirmou que está atuando para reduzir o atraso na análise dos processos. O órgão informou que “toda demanda protocolada junto à Superintendência de São Paulo é distribuída às divisões responsáveis para tratamento e atendimento”. 

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A assessoria de imprensa do órgão admitiu que há acúmulo de processos. “De setembro de 2019 a janeiro de 2020 trabalhamos de forma precária, devido à redução do quadro de pessoal por conta da decisão judicial”, disse o Incra, referindo-se à ordem da Justiça para desocupar e reformar sua sede. 

“A partir de fevereiro de 2020, foi possível estruturar força-tarefa com 20 servidores em espaço cedido pela Fundacentro. Ou seja, estamos envidando os esforços necessários para sanear o passivo existente”, acrescentou. O Incra afirmou ainda que, com a força-tarefa, “esse passivo certamente estará solucionado em curto prazo”. 

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