Falta política de segurança, alerta especialista

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Por Agencia Estado
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A questão da segurança pública não pode ser considerada apenas em momentos eleitorais ou de crise, mas tem de ser "uma política freqüente e conseqüente". Esse é o alerta do coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da USP Sérgio Adorno. "O crime é mais bem organizado e informado. Para contê-lo, é preciso ter uma organização maior do que a dele e um sistema de inteligência eficaz. O governo e a polícia não podem ser surpreendidos pelos fatos como tem ocorrido", disse Adorno. O sociólogo está estranhando a seqüência dos acontecimentos. "Agora são as bombas atribuídas ao Primeiro Comando da Capital (PCC), mas, para mim, tudo está conectado: a morte do prefeito, a onda de seqüestros, as bombas, as rebeliões. Provavelmente é uma rede complexa, com múltiplos interesses agindo de maneiras distintas, vinculada ao crime organizado." As bombas que explodiram nos últimos dias, para ele, são uma situação de confronto. Adorno explicou que era um cenário até esperado, porque o sistema penitenciário está sofrendo três tipos de forças. "A primeira é a entrada de jovens ligados ao tráfico e ao crime organizado nas prisões. Não em grande escala, mas são pessoas com capacidade de estabelecer conexões internas e externas." Depois, segundo o coordenador, há a corrupção, chegando a um nível "insuportável", que desestabiliza o sistema. "A última é a reação da administração, dividindo espaços, deslocando líderes de grupos criminosos. Isso acirra os conflitos num sistema carcerário que continua crítico, incluindo os presos nos distritos policiais, ainda em situação precária." Adorno afirma que tudo isso corrobora para esse estado de tensão. "Há uma sensação de perda de controle perigosa. Espero que as autoridades consigam recuperar o poder, impor-se e, de algum modo, conter a situação, com políticas de curto, médio e longo prazos." Ele ressaltou que os recursos da polícia estão mal distribuídos. "Não adianta só a polícia na rua. Além de outras ações, ela precisa também estar nos lugares mais necessários. Atentados como esses aumentam a sensação de insegurança e de impotência." O pesquisador do Instituto Fernand Braudel coronel José Vicente da Silva concorda. "Não adianta ter policiais visíveis em pontes e praças. Nem se expor onde os crimes não acontecem. É preciso que a polícia feche o foco em áreas críticas, como no caso já sabido de que os homicídios ocorrem mais nas zonas sul e leste, e os furtos de carros, na zona oeste." Para o pesquisador, a explosão de bombas é "um microterrorismo de grupos de bandidos". "Tenho dúvidas se foi o PCC, que andou meio sumido no último ano, a não ser por ações nos presídios em fugas e pequenas rebeliões. Não vejo o comando da facção em tráfico, roubo de cargas ou seqüestros." Silva destacou que se a situação da segurança é de guerra, como o governador Geraldo Alckmin (PSDB) alertou, é preciso agir como tal. "Se o caso é crítico na Grande São Paulo, deveriam ser deslocados profissionais de outras cidades onde os índices são baixos para combate imediato onde é preciso, com base em informações e um sistema de inteligência." Ele lembrou que a ação do governo, com a transferência de lideranças para outras prisões, desestruturou um pouco o PCC. "Mas as autoridades precisam tomar cuidado. Investigar e prender os autores dos atentados até para os bandidos verem a força da polícia. Os bandidos precisam ver riscos para limitar sua ousadia."

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