Falta de continuidade trava projetos em São Paulo

Pesquisadores reunidos nesta segunda, 5, em São Paulo, apontam como maior problema da cidade a falta de projetos de longo prazo

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Por Lucas de Abreu Maia e SÃO PAULO
Atualização:

Se os candidatos à Prefeitura paulistana nas eleições de 2012 estiverem mesmo dispostos a superar os problemas da maior cidade brasileira, precisarão passar por cima de interesses eleitorais e se comprometer com uma política de longo prazo para o município.

 

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É o que dizem os franceses Martin Vanier, professor de geografia urbana da Universitè Joseph Fourier-Grenoble, e Vincent Renard, economista diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, que apontam a descontinuidade das políticas públicas como o maior problema de São Paulo.

 

Em visita ao Brasil para participarem de seminário hoje, na Universidade Mackenzie – organizado pela senadora Marta Suplicy, pré-candidata do PT –, os pesquisadores conversaram com o Estado sobre a situação política da metrópole. Para eles, graças à falta de projetos de longo prazo, a capital ainda precisa lidar com problemas básicos, como transportes e habitação.

 

Renard, que esteve em São Paulo pela primeira vez há 25 anos, avalia que “muito pouco mudou desde então”. Para ele, “nos municípios brasileiros, quando há mudança de governo, há muito pouca continuidade dos programas”. A explicação para isso, afirmam os especialistas, é política: preocupados em criar uma marca de governo, os prefeitos, ao assumirem, fazem questão de desconstruir a gestão anterior. Prova disso, dizem Renard e Vanier, é o fato de São Paulo ainda ser uma cidade segregada, com 20% da população morando em favelas, a despeito dos vários anos de projetos de urbanização dessas comunidades.

 

Para Vanier, estudioso do urbanismo de cidades médias “transporte público é base de qualquer cidade, grande, média ou pequena”, e “sem administrar o transporte coletivo, as cidades fortalecem os desequilíbrios.”

 

Solução coletiva. A professora de urbanismo do Mackenzie, Nadia Somekh, defende que o transporte urbano não conseguirá ser equalizado enquanto a discussão for feita no nível municipal, sem incluir todas as cidades do entorno da capital. “Enquanto ignorarmos que este é um debate que envolve toda a região metropolitana, nada será resolvido”, afirmou.

 

De acordo com o IBGE, São Paulo deixou de atrair, na última década, migrantes nordestinos, que tendem a permanecer em seu Estado natal graças ao desenvolvimento econômico da região nos últimos anos. Renard, contudo, afirma que a maior metrópole do País deve se preparar para receber os milhares de imigrantes internacionais que chegarão à cidade nos próximos anos – de trabalhadores sem qualificação, vindos de outros países, até empresários altamente qualificados, que chegam ao País para ocupar cargos de chefia.

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“Não tenho dúvidas de que São Paulo será um foco de atração de trabalhadores pobres da América Latina”, aponta ele. Renard sustenta que a questão migratória – que deve ser agravada pelas mudanças climáticas – se tornará um dos principais problemas políticos no futuro.

 

“Neste caso, a preocupação deve ser com habitação”, acrescenta Vanier. De acordo com ele, “oferecer moradia para essa população a um preço razoável, numa cidade que já tem 2 milhões de favelados, não é fácil”.

 

Os urbanistas discordam, no entanto, sobre o efeito que os imigrantes de alto poder aquisitivo poderão ter em São Paulo. Para Renard, a vinda de profissionais com altos salários deve agravar a desigualdade social, já que eles tendem a viver em bairros de luxo e negligenciar o resto da cidade. Vanier, no entanto, acredita que “imigrantes mais bem-educados tendem a exigir melhor infraestrutura e participar na vida política local”.

 

Ambos estão em consenso, no entanto, ao defender que a cidade está diante de uma oportunidade de corrigir suas mazelas. “São Paulo tem a chance de evitar agora erros cometidos nas cidades europeias no século 19”, declarou Renard.

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