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Falta alternativa ao PT se Dilma deixar disputa, dizem analistas

Para cientistas políticos, não é precoce o partido discutir uma alternativa à candidatura da ministra em 2010

Por Andreia Sadi e Gisele Silva
Atualização:

Não é precoce discutir uma alternativa à candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República em 2010, ainda mais num cenário em que falta ao PT, hoje, um nome de peso para se consolidar com chances na disputa pela sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa é a opinião de cientistas políticos ouvidos pelo estadao.com.br. No último sábado, Dilma, que é a candidata preferida de Lula, anunciou a retirada de um linfoma e, em consequência disso, informou que está sendo submetida a um tratamento preventivo contra o câncer, com sessões de quimioterapia. Mas fez questão de ressaltar que a doença não vai alterar sua rotina como ministra.

 

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Leonardo Barreto, cientista político da Universidade de Brasília (UnB), diz que já tem gente pensando em uma alternativa, sim: "Política é uma coisa muito cruel. Não tem paciência e solidariedade quanto se trata de disputa de poder". Para Fábio Wanderley Reis, cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é necessário discutir o assunto porque a doença de Dilma tem sérias implicações. "A discussão está havendo certamente, as pessoas estão cogitando a hipótese de que a candidatura dela não se viabilize por causa da doença, então o que fazer?", questionou. Para ele, a discussão sobre um plano B no meio político está presente.

 

Os dois ressaltam ainda que o PT não tem nomes, caso Dilma tenha mesmo que abandonar a candidatura em função da doença. Também o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV, tem a mesma opinião: "Caso ela tenha que se afastar (do ministério), 2010 já está chegando. E se as coisas mudarem, o jogo para o governo vai ter de começar do zero". Segundo ele, o investimento já foi muito grande na candidatura Dilma e isso se perderia. "No momento, no PT, a gente não tem ninguém à altura do nome da própria Dilma", diz o analista.

 

Hilton Fernandes, cientista político da Escola de Sociologia Política de São Paulo, atribui a falta de nomes no partido a escândalos que envolveram as principais lideranças do PT. "Não tem nenhum nome com grande exposição. As principais lideranças do PT sofreram com denúncias do mensalão. Um nome forte seria o Palocci (o ex-ministro Antonio Palocci), se ele conseguir que as acusações contra ele não sejam consideradas, mas mesmo assim seria muito difícil porque as principais lideranças sofreram demais. Fica cada vez mais difícil para o PT substituir um nome como a Dilma", avalia.

 

Para ele, Dilma passou pelo "teste de candidatura", afinal o nome da ministra tem passado ileso de ataques da oposição e denúncias graves. "Teve o caso dossiê, mas não teve a repercussão necessária, grave, que poderia afetar a candidatura dela. Ela passou no teste de exposição, de candidatura. Até por tentarem colar uma denúncia e não dar certo, ela já passou no teste e poderia levar adiante a candidatura dela, subiu na pesquisas etc." Ele se referiu à acusação de que um dossiê sobre gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso teria partido da Casa Civil no ano passado.

 

Alguns analistas citaram Ciro Gomes (PSB-CE), mas dizem que temperamento "destemperado" do deputado inviabiliza o seu nome como alternativa. "Do ponto de vista do PT, as coisas ficam complicadas. Fora do PT, não há apostas com clareza. Ciro Gomes como sempre destemperou e já na outra campanha (à Presidência) de que participou. Acho o nome dele muito difícil, não apostaria nele. Fora ele, não há nenhum nome do próprio PT", diz Wanderley Reis. Segundo ele, outros nomes como Patrus Ananias (ministro do Desenvolvimento Social), Tarso Genro (ministro da Justiça) e Jaques Wagner (governador da Bahia) precisam ser construídos no plano nacional para terem viabilidade porque são nomes de muito pouco peso.

 

Cenário otimista

 

Mas o cientistas traçaram também o cenário otimista para a candidatura de Dilma. Se a ministra não se afastar do ministério por conta do tratamento e superar a doença, seu nome sairá mais fortalecido. Segundo Wanderley Reis, isso terá reflexo maior para "um certo eleitorado popular, que se identifica pessoalmente com Lula, com o simbolismo popular dele". Para Fernandes, ela pode ser valorizada como guerreira e estará mais próxima dos eleitores.

 

Para Barreto, da UnB, se a ministra conseguir lidar com a doença e com a Casa Civil, isso pode despertar a compaixão dos brasileiros, inclusive servindo para torná-la mais próxima mais humanizada. "Acredito que a dimensão humana de Dilma se transfere em votos dentro desse cenário positivo. Um dos problemas da imagem de Dilma é a fama de durona. Isso até não é tão culpa dela na política brasileira. Temos uma política tão machista que as mulheres acabam sendo obrigadas a masculinizar sua imagem para poderem obter algum espaço".

 

Teixeira diz que Dilma já é pré-candidata. "Nunca saiu da boca dela, mas a agenda dela é de quem está de olho em 2010. Tanto o esforço do presidente Lula, tanto que o principal alvo da oposição nos últimos tempos tem sido a própria ministra."

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